Lisboa, bela cidade! (extraído do livro Epopeia da Família Braga)
Caríssimo leitor,
Depois de cansá-lo com a leitura de trechos sobre minhas viagens internacionais, transcritos do livro Álbum de Recordações, convido-o a ler alguns capítulos do livro Epopeia da Família Braga, escrito para contar episódios da excursão que fiz a Europa em 2007.
A narrativa que se seguirá é rica em informações culturais. Espero, pois, que você goste e tire algum proveito dos conhecimentos históricos abundantemente descritos neste modesto espaço literário.
Leia e, gostando ou não, envie sua opinião. Este velho escrevinhador se sentirá honrado e feliz com a sua atenção.
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Lisboa
A bela capital portuguesa, considerada uma das regiões mais antigas e ricas da Europa, culturalmente, encontra-se espraiada às margens do rio Tejo, tendo o Oceano Atlântico visualmente unido ao céu pela linha longitudinal do horizonte. Sua riqueza arquitetônica e artística compõe-se de monumentos de quase todos os séculos.
Centro administrativo e político de Portugal, país famoso pelo descobrimento de novas terras nas ilhas do Atlântico, na África, América e Ásia, é também o berço de Camões e Vasco da Gama.
Os conterrâneos de Luiz Vaz de Camões conheceram minha esposa, filhos, nora, neta e a mim, no dia 30 de junho de 2007, por volta das sete horas, ao desembarcamos no Aeroporto Internacional de Lisboa.
Fomos recebidos pelo senhor José – sim, José e não Manoel ou Joaquim – e levados ao Hotel Mundial com nossas seis malas repletas de roupas, incapazes de amenizar o frio de sensação térmica aumentada pelo vento que soprava incessantemente.
Havíamos saído do Brasil com notícias de fortíssimo calor na Europa. Fomos enganados pela ação inesperada da natureza.
Enquanto aguardávamos na recepção do hotel, relembrei antiga anedota contada pelos brasileiros:
Dizem que quando Camões esteve no Brasil em visita à Colônia (pura invenção), ao desembarcar foi saudado por um poeta tupiniquim.
Dissera o brasileiro:
“Camões, poeta zarolho, grande vulto português…”
O anfitrião, interropido pelo ilustre lusitano, ouviu a complementação de seus versos assim:
”Vejo mais por um só olho, do que vós por todos três”.
Apesar de caolho, confirmado pela grafia do sobrenome – Camões, o autor de “Os Lusíadas” não deixou por menos.
Também, pô!
Antes de me concentrar nos assuntos mais importantes, li conhecida fábula lusitana disponível na recepção:
“O Galo de Barcelos”.
Diz a narração imaginativa:
"Durante banquete oferecido por rico proprietário de Barcelos, parte dos talheres de prata foi roubada, um dos convidados acusado do roubo e considerado culpado pelo tribunal. Apesar das provas esmagadoras contra ele, confessou ser inocente. O magistrado deu ao acusado uma última oportunidade para se defender. Este, ao observar um galo dentro de um cesto, disse-lhe: ‘se eu for inocente, o galo cantará’. O galo cantou e o acusado foi posto em liberdade.
Não sei se os leitores gostaram da fábula “O Galo de Barcelos”. Contei-a por ser bastante popular entre os cajos de Alentejo. Em qualquer ponto turístico do país, um cartão postal exibe a figura do famoso galo. No verso, a graciosa fábula.
Coisa de português!
Saí da minha abstração para encarar o primeiro problema da viagem.
O encarregado do "city tour" não nos procurou para o passeio, previamente pago no Brasil. Depois de várias gestões, conseguimos o que nos era devido por direito. O organizador da visita panorâmica à cidade foi repreendido pela gerência do Hotel Mundial, cobrando-lhe maior responsabilidade.
Passado o pequeno entrevero, fomos bem recebidos pelo motorista do ônibus e pelos turistas que, como nós, ansiavam por conhecer a antiga colônia fenícia e capital romana da Lusitânia, também chamada de Felicitas Julia, em homenagem a Júlio César.
O guia turístico a bordo do ônibus falava três idiomas, comunicando-se com o heterogêneo grupo em português, inglês e espanhol. Era bem instruído na rica história arquitetônica e cultural lisboeta. Com o veículo a deslizar pelo asfalto, mostrava-nos locais milenares, prédios centenários, praças e monumentos de incomensurável valor artístico e patrimonial. Lisboa, dizia-nos, era conhecida como a “Rainha do Tejo”.
A cidade foi ocupada por bárbaros e visigodos e conquistada pelos árabes no ano 714. No século XII, foi retomada pelo rei D. Alfonso I. Em 1225, passou à categoria de capital do reino, até então pertencente à Coimbra.
Em 1755, um terremoto de 9.16 graus de intensidade na escala Richter destruiu Lisboa. Sua restauração durou quase um século, a partir de projetos administrados pelo Marquês de Pombal.
Desde 1986, Portugal integra a União Européia, com Lisboa à frente de seu crescimento econômico e cultural.
Informações como essas foram prestadas enquanto contemplávamos monumentos, obras artísticas, avenidas, e durante passeios realizados pelas calçadas de mosaico, no Rossio.
Essa pavimentação é conhecida como “pedra portuguesa” e lembra as ondas do mar. Por sua beleza, foi copiada em muitas de nossas cidades. A calçada da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, é a mais célebre de todas.
Visitamos a Praça do Comércio, conhecida como Terreiro do Paço, o maior logradouro público da capital portuguesa, com o Arco do Triunfo e o monumento ao rei D. José I a embelezarem a paisagem.
A Praça D. Pedro IV, inaugurada em 1870, expõe a estátua de Sua Alteza; desse ponto, podem ser vistos o Teatro Nacional Dona Maria II e o Palácio da Independência.
Vê-se, mais adiante, a Praça da Figueira e a estátua do rei Dom João I montado em um belíssimo cavalo.
A Estação Central foi construída em estilo manuelino. A Rua Augusta está situada em um bairro do século XVIII, projetado pelo Marquês de Pombal.
No Chiado, como é conhecido o ponto mais elegante da cidade antiga, as ruas Garret e do Carmo exibem lojas, palácios e igrejas em estilo barroco, como a Igreja dos Mártires e da Encarnação. Ao final do Largo do Chiado, uma estátua homenageia o poeta do mesmo nome, nascido no século XVI.
Conhecemos a Praça de Camões, o maior dos poetas lusitanos, nascido e morto em Lisboa entre os anos 1522 e 1580; ruas charmosas e vielas repletas de bares onde se canta o fado, canção popular acompanhada da típica guitarra lusitana chorando as lamentações do cotidiano; o Convento do Carmo, parcialmente destruído pelo terremoto de 1755 e posteriormente restaurado; ruínas do Castelo de São Jorge, onde se iniciou a cidade, com traços da arquitetura árabe, judaica e cristã medieval, mostrando magnífica vista da capital. Ali viveram reis e a nobreza durante os séculos XIV e XV.
A Avenida da Liberdade, tida pelos portugueses como o Champs Elysées lisboeta, exibe lindas palmeiras ao longo de 1.500 metros de extensão; a Praça do Marquês de Pombal, embelezada por esplêndido jardim, lembra os Jardins de Marte, em Paris.
A Catedral da Sé foi erigida no século XII. Depois dos terremotos de 1344 e 1755 ficou quase destruída. Ali se encontram os túmulos de D. Afonso IV e de sua esposa.
O Museu do Tesouro da Sé, localizado nas proximidades do Tejo, contém obras de arte e relíquias religiosas.
A emoção mais forte nos acometeu na visita ao Mosteiro dos Jerônimos, construído em 1502, pelo rei Dom Manuel. Hoje, é considerado Patrimônio da Humanidade, título concedido pela UNESCO.
Trata-se de obra monumental, gigantesca, belíssima, decorada com magnificência, com pilares revestidos de esculturas abundantemente distribuídas entre as três naves e o templo, e que resistiram ao terremoto de 1755; as abobadas são em estilo gótico, uma jóia arquitetônica que provoca emoções indescritíveis.
Debaixo do coro estão sepultados Camões e Vasco da Gama. Não sei descrever com merecidos e preciosos detalhes tudo que viram meus embevecidos olhos. As fotos tiradas, infelizmente aqui não reproduzidas, complementam o que minha incapacidade descritiva omitiu.
O passeio pelos principais pontos turísticos de Lisboa foi intenso. Visitamos o Padrão dos Descobrimentos, próximo ao Mosteiro dos Jerônimos, obra edificada em 1960 para comemorar o aniversário de 500 anos da morte do Infante Dom Henrique, o Navegante, também conhecido como o Príncipe dos Mares.
Um título merecido.
O monumento tem a forma de uma caravela. Do alto, vê-se grande bússola no centro da praça onde está localizado o mosteiro, este, às margens do rio Tejo. Que rio majestoso! Conheci-o pela primeira vez em visita a Toledo, na Espanha, em 1996.
A Torre de Belém é uma obra em estilo manuelino e um dos cartões postais da cidade. É atraente e de proporções generosas, com janelas, varandas e diversas incrustações artísticas. Construída entre 1515 e 1521, tem formas árabes, românicas e góticas.
A Torre de Belém foi edificada para defesa do Tejo, na época dos descobrimentos. Restaurada, faz parte do Patrimônio da Humanidade.
Próximo à antiga fortaleza está o Centro Cultural de Belém, de edificação recente, em estilo oriental. Ali, são apresentados concertos e exposições de Arte Moderna, mediante acesso ao Museu do Design.
Atravessamos a Ponte 25 de Abril, inaugurada em 1966. Construída em aço, com mais de dois mil metros de comprimento, sustentada por dois grandes pilares sobre o rio Tejo, facilitou o trânsito automobilístico da capital. A Ponte Vasco da Gama é mais extensa. Mede doze quilômetros. Em uma de suas extremidades, o monumento a Cristo Rei com vinte e oito metros de altura, réplica do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, abençoa aos que transitam por sobre o importante e majestoso rio.
O guia mostrava e explicava ao grupo o que os olhos de todos contemplavam: o Aqueduto das Águas Livres, por exemplo, construído por D. João V em 1732, para suprir os lisboetas de água; tem 38 arcos, que chegam a 65 metros de altura em alguns pontos, como no vale de Alcântara.
O Palácio de Belém, atual residência oficial do presidente da República Portuguesa, foi adquirido pelo rei Dom José I em 1726. A compra foi paga em ouro, vindo do Brasil, a rica colônia que mudou as feições econômicas da terra de Camões.
Ao final do dia, percorremos antigas ruelas de Alfama, pitoresco bairro da cidade, com casas construídas no século XVI.
Lamentamos o pouco tempo disponível. Teríamos aproveitado mais. No mínimo, navegado pelas águas do rio Tejo, partindo da Torre de Belém com passagens panorâmicas pelo Padrão dos Descobrimentos, Mosteiro dos Jerônimos, Ponte 25 de Abril, Cristo Rei, entre outras vistas maravilhosas.
O dia de visitas em pleno verão europeu estende-se até às 21h00, o sol brilhando sobre as cabeças, algumas carecas, como a minha.
Ao término de extensos passeios, sentados às mesas expostas nas calçadas, em cenário tipicamente europeu, provamos uma dose de Ginja, excelente licor produzido na região de Óbidos.
Depois de reconfortantes banhos quentes, um pouco aliviados do cansaço, jantamos nas proximidades do hotel. Ao cabo, retornamos para uma soneca que se estenderia até as 6h00, quando deveríamos estar despertados para o café matinal e nova jornada de visitas, cansativas como as demais.
No dia seguinte, conheceríamos O Museu Nacional dos Coches situado na região de Belém, Cascais, Praia do Guincho, Estoril, Queluz e Sintra.
O Museu dos Coches é um dos mais visitados em Portugal. Recebe cerca de trezentos mil visitantes por ano. Ali está exposta a mais valiosa coleção de carruagens reais do mundo, procedentes de Portugal, França, Itália, Áustria e Espanha.
O museu foi criado pela Rainha D. Amélia de Orleans e Bragança, mulher do rei D. Carlos I. São exemplares dos séculos XVII, XVIII e XIX, contemplando coches, berlindas, carruagens, seges (carruagem de duas rodas, com um só assento, fechada por cortinas ou vidro), carros de passeio, liteira (cadeira usada para transportar pessoas, coberta, sustentada por dois paus compridos, conduzida por dois homens, um à frente e outro atrás), cadeiras e até carrinhos de crianças. Completam a coleção, arreios e selas para cavalos, fardamentos, armas e outros acessórios.
Fomos conhecer o Oceanário de Lisboa, o segundo maior do mundo. O primeiro encontra-se no Japão. Grandes aquários de água salgada abrigam variadas espécies marinhas.
O gigantesco prédio é moderno e foi construído comunicando-se com o rio Tejo e o mar. Suas instalações contam com laboratórios, salas de vídeos e modernos equipamentos para dotar os ambientes de vida aquática. Também dispõe de pessoal técnico altamente especializado para manter as instalações em ordem.
O visitante poderá ver os sete milhões de litros de água salgada, bem como os oito mil organismos marinhos ali existentes. Uma equipe de biólogos mantém os animais saudáveis, mesmo vivendo em cativeiro.
O oceanário promove atividades náuticas, realiza cursos sobre a vida marinha, e recebe estudantes para visitações programadas. Executa até festas de aniversários com visita guiada por biólogo da instituição. O lanche é servido em espaço amplo e seguro. O aniversariante, se quiser, poderá realizar a festa na própria casa, onde será desenvolvido tema sobre os oceanos.
A alegria da esposa e a minha foi intensa ao visitarmos o oceanário português. Em nossa primeira viagem, estivemos às portas do Oceanário Jacques Cousteau, no Principado de Mônaco, mas não o conhecemos em face do adiantado da hora.
Agora, realizamos um desejo contido há mais de dez anos, acompanhados de boa parte da família. Compensamos a perda da visita frustrada, jogando nos caça-níqueis de Montecarlo, de onde saímos mais pobres depois de perder uns trocados. Na ocasião, pagamos oito dólares por uma Coca-Cola.
São muitos os aquários e ambientes marinhos existentes naquele monumental empreendimento.
Depois da visita, passeamos pelo Parque das Nações, elegantíssimo bairro moderno da capital, cujos edifícios de alto padrão desafiam as alturas com dezenas de andares onde grandes empresas nacionais e internacionais estão instaladas.
A Estação do Oriente acomoda milhares de passageiros de trens suburbanos. O Cassino de Lisboa completa a beleza do bairro que se compõe, também, de excelentes edifícios de apartamentos.
O Palácio Nacional de Queluz está localizado a poucos quilômetros de Lisboa. Foi construído de 1747 a 1760 pelo Infante D. Pedro, filho de D. João V e de D. Mariana de Áustria.
Dom Pedro depois se tornara Dom Pedro III. Era irmão do Rei D. José I, nascido em 1714 e falecido em 1777. D. Pedro III era casado com Dona Maria I.
O palácio edificado em estilo Rococó caracteriza-se pela utilização de frisos curvados, ornamentos e cores destinados a tornar o ambiente íntimo, gracioso e requintado. As fachadas do edifício são elegantes, em estilo francês, pretendendo imitar o Palácio de Versalhes, em Paris. A imitação configura-se até na Sala do Trono, longe, porém, de assemelhar-se à Galeria dos Espelhos do Palácio de Luiz XIV. Mas, diga-se sem bairrismo, de apurado bom gosto, como o é a Sala dos Embaixadores, com o teto pintado representando a família real assistindo a um concerto.
Visitamos o palácio na sua totalidade. Estivemos na Sala do Trono, na Sala de Jantar, no Toucador dos aposentos privados da princesa D. Maria Francisca Benedita e no quarto D. Quixote. Conhecemos o Corredor dos Azulejos e a Sala dos Despachos. Ah! Visitamos a capela e o lindo altarmor onde a nobreza pedia perdão a Deus por suas injustiças.
O palácio dispõe de valiosa coleção de artes decorativas do mobiliário português, tapetes, quadros de suas altezas reais, porcelana chinesa e européia, objetos e jóias, tudo integrado aos ambientes das respectivas épocas. Paredes e tetos são pintados e decorados com motivos artísticos, belos lustres de cristal e magníficos azulejos, como o Corredor dos Azulejos, ambiente de inesquecível lembrança.
Os jardins do palácio são grandes, arborizados e decorados com variadas esculturas. Construído à semelhança do Jardim de Versalhes, não se iguala em dimensões e beleza, todavia, são muito bonitos. Agradáveis à vista. Relaxantes.
Desde 1957, o Pavilhão D. Maria I hospeda chefes de Estado estrangeiros em suas visitas oficiais ao país. Portugal demonstra, assim, sua hospitalidade para com seus ilustres visitantes.
O presidente Luiz (Viajando) Lula da Silva, em suas repetidas, constantes e, às vezes, desnecessárias viagens, talvez já tenha pernoitado no Palácio Nacional de Queluz.
Possivelmente, utilizou o Quarto D. Quixote, já que tenta imitar o personagem com seu governo excessivamente paternalista, em detrimento de grande parte da sociedade brasileira, os sem-bolsa.
Estoril fica a cerca de dez quilômetros do centro de Lisboa. Área turística privilegiada, hospeda, conforta e relaxa corpos e mentes de pessoas abastadas.
De simples aldeia de pescadores, passou a abrigar a aristocracia portuguesa em suas mansões e apartamentos luxuosos. Milionários de outros países também desfrutam de boas temporadas em hotéis de primeira categoria.
Pilotos de Fórmula 1 e alunos da Escola de Pilotos competem e exercitam suas habilidades no famoso autódromo.
A principal clientela de Estoril, talvez, seja a de jogadores de pôquer, visitantes assíduos do cassino que lhe adotou o nome.
Infelizmente, não o conhecemos. Suas portas somente abririam à noite. Cansados, não retornamos para assistir a nenhum espetáculo.
Aguardo uma segunda viagem a Lisboa. Nessa ocasião, nem mesmo o cansaço, a exaustão ou a preguiça me serão motivos de tropeço.
Quando isso acontecer, estarei em Estoril para gastar os euros tão sacrificadamente amealhados no Brasil. A classe média não poupa, gasta.
Amanhã, chegaremos à Cascais. Aguarde!