Visita a Veneza (extraído do livro Álbum de Recordações)
Veneza parece submergir, flutuar ou emergir, dependendo da imaginação de quem a visita a bordo de embarcação que leva ao ancoradouro, a partir do qual o turista estará livre para conhecê-la. A sensação inicial é mesmo a de quem vê uma cidade inteira afundando nas águas; ou emergindo dela.
Uma cena espetacular!
Não saberei informar dados sobre a fundação de Veneza. Meus apontamentos são insuficientes. Tenho informação de que em 1160 foram realizadas obras no canal Botário, objetivando aumentar o espaço da famosa Praça de São Marcos, principal logradouro da cidade, agradável aos habitantes locais e a visitantes. A praça é animada e possui generosos espaços para aglomerações públicas e religiosas.
Não saberei, também, dizer o número de pombos que voam e pousam para serem alimentados generosamente pelos visitantes. Deve ultrapassar as centenas, aproximando-se dos milhares. Os columbídeos alegram os visitantes, principalmente jovens e crianças. E ainda fazem a festa dos vendedores de milho, fartamente servido nas mãos ou nas copas dos chapéus usados pelos turistas.
As gôndolas guiadas por venezianos entoando músicas românticas singram as águas dos canais, transportando pessoas ávidas por conhecer lugares históricos da cidade que acolheu o conquistador romântico, Casanova, frequentador do Café Florian.
A bordo dessas embarcações, os visitantes são levados a conhecer prédios antigos, em cujas paredes, impregnadas de lodo, as águas batem insistentemente.
Nesses passeios aquáticos, conhecemos palácios e pontes que ligam as extremidades de prédios ou facilitam a transposição do caminhante cansado da jornada contemplativa.
Após desembarcar da gôndola, atravessamos a Ponte dos Suspiros, construída em 1597, ligando o Palácio aos calabouços. São dezoito celas erguidas em pedra ou escavadas na rocha; um ambiente frio e triste.
Imagino o sofrimento dos prisioneiros ali isolados e maltratados, reclusos em ambiente insalubre, tendo como companhia as ratazanas que os visitavam para compartilhar a pouca alimentação servida pelos nobres, fartos em seu palácio ao lado. Talvez os gritos dos torturados não os incomodassem, pois a profundidade das celas reduzia os sons dolorosos e sofridos.
Ao fundo da Praça de São Marcos encontra-se a famosa Basílica. São cinco entradas em forma de arcos, torres e cúpula, cruzes e bandeiras.
O Campanário de são Marcos, edificado à esquerda da Basílica, bem como a coluna do Leão, erguida à sua frente e à esquerda do Palácio Ducal são símbolos dos antigos venezianos. O poder da república era representado pelo leão, presente nos domínios venezianos.
Erguida e consagrada ao padroeiro da cidade em 832, a Basílica original foi destruída por incêndio ocorrido em 967; sua reconstrução durou até 1094, quando foi novamente reconsagrada a São Marcos.
O interior da nave principal é rico; colunas e paredes são revestidas em mármore e em ouro. Figuras bíblicas estão fartamente distribuídas pelo santuário. Destacam-se doze imagens representando os apóstolos, alinhadas junto a uma enorme cruz.
Um grande quadro da Virgem Maria com Jesus e mais dezesseis imagens de santos, incrustadas em esmalte bizantino, e uma impressionante cruz elaborada em ouro, somente perdem em beleza para o altar La Pala, revestido de metais nobres, ouro e pedras preciosas.
Arcos e colunas sustentam essa magnífica obra de arte, rica e exuberante, todos trabalhados de alto a baixo, com o mesmo requinte e primorosa elaboração. A parte frontal do altar, ao fundo, exibe dezenas de imagens incrustadas de forma magnífica.
O interior do Palácio Ducal é impressionante. Escadas conduzem aos aposentos e aos salões superiores, esplendidamente decorados com gravuras espalhadas por arcos e teto.
As Salas do Senado, do Conselho Maior, do Colégio e das Armas, todas de grandes proporções, prontas para comportar sessenta membros, como a do Senado, em particular, têm paredes, tetos e pisos abundantemente ornamentados por maravilhosos afrescos, magníficos entalhes em madeira e poltronas assemelhadas a tronos reais.
As armas antigas que no passado impuseram luto às famílias dos combatentes estão organizadas e bem distribuídas pelo ambiente.
Tudo encanta, deslumbra e se iguala em dimensões, arte e beleza.
Assim é Veneza, descrita pela injusta narrativa de quem a conheceu em tão poucos dias.
Amanhã, você conhecerá, por meu intermédio, alguma coisa sobre a Suiça e a Alemanha. Aguarde!