Visita a Pisa e a Roma (extraído do livro Álbum de Recordações)
Pisa
Chegamos a Pisa por volta das doze horas de uma tarde bastante ensolarada. A agenda do dia marcava visita ao complexo da catedral, ao museu e à famosa torre inclinada, situados na Praça dos Milagres.
O pátio estava lotado de turistas.
Visitamos a igreja e o museu, dois grandes prédios com quase setecentos anos de idade, muito bem conservados.
Contemplamos uma infinidade de obras de arte. Esculturas, objetos sacros e variados afrescos foram objeto de nossa observação. A arquitetura dos prédios e a torre inclinada, concluída ao final do século XIII, também nos empolgaram bastante.
Não disponho de anotações sobre as artes sacras existentes na catedral e no museu. Talvez, em se tratando de rápida visita, tenha negligenciado os meus apontamentos.
Nosso maior desejo consistia em visitar a torre inclinada de Pisa, objeto do desejo de todo turista. Infelizmente, como acontecera aos demais visitantes, fomos impedidos de conhecer o seu interior, distribuído por oito pavimentos em forma cilíndrica, cada qual com acesso a uma área de circulação arqueada, sustentada por inúmeras colunas.
Naquela época, os técnicos realizavam obras de engenharia para evitar o avanço da impressionante inclinação, sempre desafiadora, que chegou a quase quatro metros, contados de uma linha vertical entre a base e o cimo. Essa inclinação teve origem ainda na construção, quando erguiam o terceiro pavimento.
Tentou-se corrigir o problema com a utilização de pedras colocadas no lado Sul, onde a torre começou a inclinar a uma média de 1,2 milímetros por ano.
Em 1930, o ditador Benito Mussolini mandou executar trabalhos de contenção. Foram injetadas quase cem toneladas de concreto no solo, resultando inclinação ainda maior.
Os técnicos diagnosticaram o pior: a torre desmoronaria em vinte anos, o que, felizmente, não aconteceu.
Em 1995, a inclinação foi de 2,5 milímetros em uma só noite. Nova tentativa para salvar a magnífica obra levou o Estado italiano a gastar vinte e sete milhões de dólares como solução definitiva do problema.
O projeto consistiu na extração de terra do lado Norte, para que a torre afundasse desigualmente. O procedimento visava à redução do ângulo. O trabalho, hoje, está concluído. Espero que a torre inclinada de Pisa resista ao longo dos próximos séculos.
Tiramos fotos, todos nós, minha mulher, minha filha e eu. A mais interessante foi aquela em que, a certa distância, elevamos os braços com as mãos espalmadas, como se estivéssemos a sustentar a torre para ela não cair. Foi a visão que tivemos, após revelar a fotografia.
A torre ainda está lá, imponente e desafiadora. Terminadas as obras de engenharia, conforme ocorreu recentemente, poderá ser visitada em toda sua plenitude.
Roma
Cheguei à capital italiana a bordo de confortável ônibus, dirigido por Manolo, nome tão comum na Espanha quando Zé, no estado da Paraíba. Antes, porém, conheci vinhedos, campos de pastagens, lugarejos antigos, ruínas de prédios milenares, montanhas por onde foram abertos túneis rodoviários nos dois sentidos da auto-estrada. Centenas deles. O mais extenso mede onze quilômetros.
Transitando por estradas da Itália, conheci lugares interessantes e de muita história, até para nós brasileiros. Passei por Gênova, cidade natal de Cristóvão Colombo, descobridor da América. Bem mais adiante, a caminho de Florença, avistei uma placa de acesso à cidade de Pistóia, onde foram enterrados os pracinhas brasileiros, heróis da Segunda Guerra Mundial. Os nossos soldados deram exemplo de bravura conquistando Monte Castelo, dominado pelos alemães.
Enfim, chegou a vez de Roma. A Cidade Eterna acabara de ser "conquistada" por este paraibano, nascido no alto sertão, pobre, órfão de pai aos seis anos de idade. Em visita a Europa, tornara-se “cidadão do mundo”. Naqueles dias, desafiava os idiomas e ouvia sobre a cultura milenar do Velho Continente. “Roma, aqui estamos, minha esposa, minha filha e eu, para te conhecer e contemplar!” – dissera eu, em momento eufórico.
E, assim, iniciamos intensos passeios regados a caminhas exaustivas, os ouvidos atentos às informações do abalizado guia turístico.
Andei pelas ruas da capital italiana, freqüentei restaurantes, sentei-me às mesas expostas nas calçadas, degustei bom vinho enquanto transeuntes desfilavam pelo passeio público, indo ou regressando das compras em lojas da Via Veneto.
A via Veneto é o paraíso da moda e do bom gosto. Por lá, circulam renomadas figuras do mundo inteiro: reis, rainhas, príncipes, princesas, artistas e muitas outras personalidades famosas. Naqueles momentos, deixei-me transportar aos anos sessenta para lembrar filmes cujos cenários foram locados nesses memoráveis lugares.
Conheci La Fontana Di Trevi, a mais esplêndida fonte da cidade romana. Em suas águas, depositei algumas liras (moeda italiana) e formulei desejos, enquanto via parte do meu capital monetário misturar-se a outras divisas, algumas trazidas dos recantos mais remotos da Terra. Dizem que quem lançar uma moeda em suas águas, voltará a Roma. Por isso, mantenho o meu passaporte bem guardado e as malas protegidas do mofo.
Benini foi um dos autores do projeto de La Fontana Di Trevi,
deslumbrante monumento à arte e à beleza. Cavalos montados por figuras humanas, esculpidos em mármore, galopam sobre as águas como se viessem de alguma batalha vitoriosa. Ao fundo, uma arquitetura belíssima comporta variadas esculturas. Uma riqueza de detalhes que deixa o mais versátil e rigoroso crítico de arte sem expressões adequadas para elogiá-la. Muito menos para criticá-la.
Nas imediações da famosa fonte, encontra-se nossa embaixada, instalada em prédio ricamente reformado com dinheiro do contribuinte brasileiro. O palácio abriga felizardos diplomatas em seus retiros luxuosamente remunerados. O senhor Itamar Franco é um deles. Indicado para mostrar o “seu topete” às famosas madonas, ali permanecerá pelos próximos anos, se seu temperamento esquisito não o trouxer de volta mais cedo. O que é quase certo!
A Piazza Navona, localizada em frente à igreja de Santa Inês é a mais famosa de toda a Roma barroca. Em suas águas, durante o reinado de Domiciano, realizavam-se espetáculos lúdicos, jogos esportivos e muitas brincadeiras. No mês de agosto, ocorria uma regata com a participação da nobreza e do clero. Nessas ocasiões, os nobres romanos exibiam suas cores características. A verdadeira atração artística da praça, porém, é a Fonte dos Quatro Rios – Danúbio, Ganges, Nilo e La Plata (nessa época não se conhecia o Rio Amazonas). A obra é de autoria de Bernini, que esculpiu quatro majestosas estátuas. Próximas à Fonte dos Quatro Rios encontram-se a Fonte Del Moro e a Fonte de Netuno.
O Panteão é antiga construção mandada edificar por Vespesiano Agrippa, em 27 a.C. Foi restaurado por Adriano entre os anos 118 e 128, após incêndio ocorrido no reinado de Trajano.
A fachada do prédio apresenta oito colunas revestidas de granito, e uma inscrição no alto, que diz: *AGRIPA*L*F*CO*TERTIUM*FECIT*, ou seja: Agrippa, cônsul pela terceira vez, construiu isto.
Na cidade dos Césares, tomei outro banho de história. A mais completa lavagem cultural de minha vida. A todo instante fui inundado de informações e conhecimentos. Apresentaram-me às mais valiosas riquezas das artes e do saber. Pareceu-me que toda humanidade estava representada naquelas geniais esculturas e naqueles lindos afrescos. Deslumbrei-me com gigantesco cenário de memoráveis lembranças.
Continuarei a descrevê-lo para compartilhar com o leitor tão sublimes momentos.
Andando pela mística cidade romana, conheci muitas ruínas antigas: restos dos Foros Imperiais, como o Foro de César, de Nerva, de Augusto, de Trajano e do Foro Romano.
Os Foros serviam de ponto de reunião; neles se realizavam as assembléias populares; era o lugar utilizado pelos magistrados para julgar as causas da população. Ali também funcionavam os mercados.
Também visitei as ruínas de alguns templos: No de Saturno, um dos mais antigos, construído em 497 a.C, podem ser vistas diversas colunas bem elaboradas, demonstrando o bom gosto da Roma antiga.
Os restos dos templos de Júlio César, edificado em 29 a.C, e o de Vesta, deusa do fogo, restaurado em 191, bem como as ruínas da Casa das Vestais, sacerdotisas do culto a Vesta, guardam apenas vestígios espalhados conforme faziam parte do conjunto arquitetônico da época.
Na Europa antiga era comum o governante edificar Arcos para registrar suas façanhas guerreiras. O Arco de Septimo Severo, por exemplo, foi erguido para celebrar a vitória contra os partos, em 195 e 197. O Arco mede, aproximadamente, 20 metros de altura e contém gravuras de soldados romanos, prisioneiros cativos e apetrechos de guerra.
O Arco de Tito, junto aos Foros, mede 5,40 metros de altura por 4,75 de largura e foi erguido para homenagear o imperador depois de sua morte, no ano 81 de nossa era.
O Arco de Constantino mede 21 metros de altura. Foi construído por decreto do Senado e do Povo Romano, em 315, da era Cristã, para comemorar os dez anos de reinado do Imperador e a vitória sobre Mejencio, em 312.
São muitas as ruínas de templos pagãos, de edifícios públicos, entre eles os Foros Imperiais, distribuídas em extensa área urbana, testemunhas de uma civilização avançada e organizada.
As numerosas esculturas em tamanho natural, expostas ao ar livre, outrora decoravam belos jardins; hoje, revelam o arrojo dos homens que fizeram história e que legaram à humanidade um vasto acervo artístico.
Ainda sobre ruínas de edificações seculares e milenares, lembro o Coliseu, grandioso anfiteatro denominado Anfiteatro Flavium, por ter sido edificado por imperadores da dinastia Flávia.
Como lembrança dessa gigantesca obra do passado, guardo a fotografia de minha filha ao lado de um rapaz caracterizado de soldado romano da antiguidade, usando sandálias, manto vermelho e capacete com penacho da mesma cor.
O Coliseu tem forma elíptica, com quase 49 meros de altura. O nome “Coliseu” advém da Idade Média, e era assim chamado por estar próximo à colossal estátua do Rei Sol.
A edificação do Coliseu foi iniciada pelo imperador Vespesiano. Em 79 d.C, ele construiu as duas primeiras filas de arquibancadas e o imperador Tito o quarto e o quinto lances.
A obra foi inaugurada no ano 80, com jogos e espetáculos que duraram cem dias. Alejandro Severo restaurou o Coliseu em 217 e Gordiano o fez, novamente, no século III. Outras reformas aconteceram em 429 e 443, em decorrência de danos provocados por terremotos.
As generosas dimensões do Coliseu são confirmadas por seus espaços internos. Nos subterrâneos da arena havia jaulas para feras, depósitos para armazenar armas e locais destinados a abrigar as equipes que atendiam aos espetáculos.
Ali se realizavam variados acontecimentos “esportivos”, por assim dizer, destacando-se os combates selvagens entre os gladiadores, presenciados por olhares indiferentes e corações maldosos.
As lutas, em forma de duelos, quase sempre terminavam com a morte de um dos contendedores. Havia os que lutavam com feras. Os condenados por crimes brigavam sem armas, enfrentando um leão feroz e faminto com as próprias mãos. Vitoriosos, obtinham a liberdade.
Segundo antigos historiadores, o imperador Trajano chegou a contratar dez mil gladiadores e utilizou onze mil feras para os jogos comemorativos à sua vitória sobre os Dácios. Cerca de cinqüenta mil expectadores assistiam aos eventos.
Não é plenamente confiável a informação de que o Coliseu tenha sido palco do martírio dos primeiros cristãos, embora sejam abundantes as histórias a esse respeito.
A seguir, falarei da chamada “Roma Cristã”, de seus belos e milenares edifícios, de sua arte esplendorosa e de uma história que revela fascinante aspecto da humanidade, após a passagem de Cristo entre nós.
Leitor, amigo, leia sobre a Roma Cristã; conheça o Vaticano com toda a sua riqueza cultural e artística. Isso, amanhã. Por hoje, apoveite o que escrevi até aqui. Se ainda não leu as resenhas anteriores, talvez você esteja perdendo de eniquecer um pouco mais a sua cultura. Faça-o, com esta certeza. Até amanhã!