Turismo no Brasil (extraído do livro Álbum de Recordações)
Poucos países são tão lindos quanto o nosso. Suas belezas naturais encantam de Norte a Sul. Vinte e dois por cento da flora, dez por cento dos anfíbios e mamíferos e dezessete por cento das aves do mundo inteiro encontram-se no Brasil, que ainda dispõe de quarenta e três por cento dos chamados Paraísos Ecológicos.
A costa litorânea brasileira possui oito mil quilômetros de extensão, com 2045 praias belas e aconchegantes. Em todos os recantos da amada pátria, a natureza fez papel de madrinha; concedeu-nos vistas impressionantes e maravilhosas para ser apreciadas, arquivadas na memória, comentadas com amigos e parentes, e relembradas quando a saudade aperta, passando-as na imaginação como filme inesquecível.
Excetuando-se as exuberantes belezas naturais, o Brasil pouco tem a mostrar. Infelizmente. Os centros históricos de nossas cidades estão decadentes. As esculturas de Aleijadinho, em Congonhas do Campo, por exemplo, deterioram-se sob a ação implacável do tempo, sem a necessária restauração. A arquitetura e a arte barroca de Mariana, Sabará, Ouro Preto, São João Del Rey e Petrópolis, também.
Não existe proteção à arte brasileira, nem mesmo bom aparato contra incêndio para livrar sua riqueza cultural e artística de eventuais danos. Os prédios tombados pelo Patrimônio Histórico de algumas cidades como São Luis, no Maranhão, e Ouro Preto, em Minas Gerais, são prova eloqüentes do desleixo de nossos administradores. Incêndio em antigo edifício da cidade mineira pôs fim a um pedaço da nossa história. Outro desastre semelhante destruiu a igreja de Pirenópolis, no estado de Goiás. Ali, dois séculos de nosso passado foram consumidos pelo fogo destruidor.
Existem exceções dignas de registro, como Recife, Fortaleza, Salvador e Olinda. A administração pública restaurou prédios antigos, possibilitando aos jovens conhecer a história dos seus antepassados e aos velhos relembrar, saudosos, parte de suas vidas.
Manaus, Curitiba e Rio de Janeiro revitalizaram alguns edifícios e monumentos localizados em centros urbanos decadentes. O Rio limitou-se à melhoria do acesso ao Cristo Redentor; Curitiba o fez em três ou quatro prédios; e Manaus reformou o Teatro Amazonas.
Parece ter ficado por aí.
Em Maceió e São Luis, apenas para tornar a lista menos extensa, constatamos construções centenárias deterioradas pela ação do tempo, associada ao vandalismo de um povo inculto e desmemoriado. O abandono do poder público é o principal vilão dessa história de horror cultural.
A maioria de nossas cidades exibe ruas sujas, calçadas esburacadas, prédios com fachadas cobertas pela fuligem negra da poluição, jardins mal cuidados, praças danificadas, trânsito caótico e ruas invadidas por barracas de camelôs e por pedintes nos sinais de trânsito, em busca de esmolas, quando não para assaltar o cidadão honesto e trabalhador. Grupos de crianças “desfrutam”, nas ruas, dos prazeres do craque, à vista de autoridades negligentes e despreparadas.
No Rio e Janeiro, outra vez citado, desta feita como referência trágica, em cada cem mil habitantes quarenta e cinco morrem assassinados.
Uma taxa assustadora!
Essa estatística macabra inibe o fluxo de visitantes. Para se ter uma idéia, o Brasil está em trigésimo quarto lugar no ranking mundial do turismo, registrando menos de quatro milhões de turistas por ano. A França recebe 76,5 milhões, a Espanha 49,5 e os Estados Unidos 45,5 milhões de estrangeiros anualmente.
Uma diferença e tanto!
Algumas cidades do Sul, como Blumenau, em Santa Catarina, Gramado e Canela, em território gaúcho, merecem ser incluídas em qualquer roteiro turístico. Não devem ser esquecidas viagens ao Pantanal e à Selva Amazônica, com cuidados preventivos por parte do turista para não ser surpreendido por naufrágios de barcos superlotados e de rara manutenção.
No tocante à parte cultural, novamente me valho das exceções para lembrar o pouco a se ver: raros teatros, salvo em São Paulo e Rio de Janeiro; reduzido número de livrarias; pouquíssimos museus – São Paulo é o principal destaque –; muito forró, shows de baixo nível e de alto teor pornográfico no Nordeste; excesso de axé e muita batucada em Salvador.
Por causa de nossa pobreza cultural, infelizmente não me permito ir além do que disse.
Lamento!
Leia, amanhã, comentários sobre viagem a New York.