A UTOPIA DE MORUS E A NOSSA UTOPIA

Longe de pretender ser uma resenha clássica e acadêmica da incomparável obra de Thomas Morus, embora não vá se afastar de sua descrição, também não seguirá o estilo categórico de uma resenha, não deixará distante a abordagem da obra, possibilitando aos que desejam conhecer a essência da obra uma visão panorâmica e, ao mesmo tempo, uma reflexão contextualizada e contemporânea.

Começando pelo autor, Thomas Morus pode ser considerado um visionário, uma dessas criaturas que estão fora do seu tempo, que parecia conhecer o futuro quando empreendeu suas manifestações no presente. Além disso, exerceu um papel político importante e se posicionou contra o abuso do poder pela monarquia, enfrentando-a e propondo uma distribuição mais justa do dinheiro, limitando o dinheiro das orgias monárquicas. Sendo membro da Câmara dos comuns (House of Commons) convenceu seus pares a reduzir de 113 mil para 30 mil libras a verba solicitada pelo rei Henrique VII para “investir” no casamento da filha e promover seu filho a cavaleiro.

Enquanto escritor, destacou-se pela iniciação à historiografia inglesa, com a publicação de "História do Rei Ricardo III", influenciando historiadores e ao próprio Shakespeare em uma de suas peças.

A Utopia, em seu lançamento, era uma obra sui generis. Mesclando fantasia e fatos reais, em uma leitura fácil, em forma de diálogo, a obra pode ser descrita como uma  comunicação de Rafael Hitlodeu, a personagem principal do livro,  a respeito da melhor constituição de uma república, dividida em: As cidades da ilha, destacando-se Amaurota; Dos magistrados; Das artes, dos ofícios e ocupações; Da vida e das mútuas relações entre os cidadãos; Das viagens dos Utopianos e outros assuntos diversos, espirituosa e habilmente discorridos; Dos escravos, doentes, casamento e diversos outros assuntos; Da guerra; Das religiões da Utopia.

A Utopia é uma ilha, com característica de uma nação, onde os costumes, o governo, as ações dos cidadãos é rica e minuciosamente descrita pelo personagem principal, Rafael Hitlodeu, numa gradação de fatos e narrativas que envolve o leitor em um cenário que parece perscrutar o desejo de todos os homens de viverem em igualdade. Um lugar onde a vaidade é desprezível e o coletivo sobrepõe-se ao individual, de maneira que não há pobres ou mendigos.

O aspecto espiritual acha espaço na crença em Mitra, o ser supremo, criador e onipotente, na vida após a morte e nos princípios de uma educação mediada pelos sacerdotes que ministrariam os saberes e as bases da formação virtuosa na primeira infância de maneira que, uma vez aprendidas, produziria frutos bons por toda a vida. Um dos pontos altos do livro é a clareza que se tem de que ninguém possui nada, mas todos são ricos.

Thomas Morus conduz o leitor a uma catarse em seu envolvimento com a obra, quando conclui convidando-o a comparar o que existe na ilha com o que existe na realidade de seu tempo.

É uma obra fascinante, que ultrapassou cinco séculos de sociedade injusta e achega aos nossos dias com a mesma perspectiva de mudanças, podendo ser considerado um divisor de água entre a ficção e o desejo de bilhões de pessoas, que sonham com uma sociedade mais justa e oportunidades para todos. Leitura recomendada em várias áreas do conhecimento humano, tanto nas Ciências Sociais quanto nas Humanas, apresenta um mundo melhor.