Efeito borboleta
Quem um dia não já pensou na possibilidade de voltar no tempo para consertar algo na própria vida? A literatura e o cinema sempre viram neste tema um prato cheio para enredos fantásticos.
Uma das obras relevantes da telona abordando o assunto é “O Efeito Borboleta”, do diretor Eric Bress, lançado em 2004. Seu título é uma clara referência à tão badalada Teoria do Caos, que menciona (em livre interpretação) que o simples bater de asas de uma borboleta no Brasil pode desencadear um tufão do outro lado do mundo.
O filme, extremamente bem amarrado, prende a atenção do início ao fim e traz a instigante história de Evan – um jovem estudante de Psicologia que teve diversos problemas enquanto criança e adolescente, sofrendo de desmaios e bloqueios de memória. Após reencontro com Kayleigh – seu amor de infância, ele descobre que, ao ler seu diário, consegue enviar sua consciência adulta para o passado, em seu corpo de criança. Nesta “viagem” Evan consegue mudar completamente o seu destino e o de todos a sua volta. Isto, no entanto, tem seu preço...
Meu fascínio por esse tema vem desde o fim da década de 70, época em que passava na TV o seriado “Túnel do Tempo”. Dois agentes bem treinados e monitorados por uma base de cientistas faziam as viagens de volta aos fatos mais marcantes da história da humanidade. Embora não coubesse a eles interferir em nada, isso não conseguia ser seguido à risca, pois ambos eram sempre obrigados a se envolver nos episódios que deveriam apenas observar.
Da mesma época, o brasileiríssimo Sítio do Pica-Pau Amarelo também mantinha as idas e vindas no tempo através da palavrinha mágica “Pirlimpimpim” – uma espécie de passaporte irrestrito que dependia única e exclusivamente da imaginação dos viajantes. Seja na Grécia conversando com filósofos e divindades, ou na Roma antiga, Pedrinho, Narizinho, Emília, Visconde, Dona Benta e outros da turma faziam a ponte entre passado e presente como se estivessem indo ali no bucólico Arraial dos Tucanos.
Na década de 90 o cinema produziu outros grandes filmes com a temática. É o caso da trilogia “De Volta para o Futuro”, “O Exterminador do Futuro”, “Os Doze Macacos” e “Alta Frequência”. Em todos eles a volta ao passado se dá numa clara tentativa de reverter acontecimentos nefastos constatados no futuro.
Se o cinema é insuperável na abordagem desse tipo de assunto, a literatura também tem o seu lugar. Assim, não dá para mencionar viagens no tempo sem citar “Operação Cavalo de Tróia”, do escritor espanhol J. J. Benitez. Apresentada como uma transcrição verídica do diário de um major da Força Aérea norte-americana sobre uma experiência de recuo no tempo, a obra de quase 3.500 páginas e oito volumes (até o momento) é fantástica tanto do ponto de vista ficcional-científico quanto histórico, esotérico e religioso.
Benitez conta que a Operação Cavalo de Tróia teria realmente acontecido na década de 70 depois que cientistas da Força Aérea dos EUA descobriram as “chaves” para os saltos no tempo. Ele, como escritor de livros de temáticas similares, teria sido escolhido pelo médico militar que vivenciou a experiência de retornar à época de Jesus para publicar, após a sua morte, uma cópia do que seria o seu diário de bordo. Do nascimento à Paixão de Cristo, tudo é testemunhado e registrado por dois homens céticos do século 20, em páginas e páginas de uma história fascinante.
Mesmo tendo a certeza da impossibilidade concreta de qualquer volta ao passado, fazê-la mentalmente traz sempre uma boa chance de entendermos melhor as nossas vidas no presente, e aí, sim, fazermos valer a teoria do efeito borboleta – em que a tomada de uma simples decisão, de uma simples atitude, possa se reverter em ganhos incomensuráveis lá adiante.