Conversando com o meu próprio texto de 2020 sobre O Poço

Leia também o texto original:

https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/6901963

 

Acabei de assistir ao filme O Poço! Arhrhrhr! O quanto ainda temos de animal selvagem dentro de nós, dentro de tu, ai escondidinho que só um poço bem fundo pode trazê-lo à tona??!!

 

Desculpe-me a empolgação. Vamos voltar ao tom de resenha.

 

Então, na verdade eu reassistir ao filme. A primeira vez foi em 2020, quando ele estava no ápice das críticas e projeções e badalações e da vanguarda! Reassisto agora, quando quem já assistiu olha para gente e pergunta: "fala de quê, mesmo?" Esse infeliz não entendeu nada e a vontade que tenho é de construir um poço e jogá-lo dentro e dizer-lhe: descubra, besta! Mas não vou fazer isso, apesar de já ser tarde. Se o que Jesus falou sobre desejar a mulher do próximo  for aplicado neste caso, lamento, você já foi defenestrado no meu poço imaginário.

 

Ai, eu pensei! Eu assistir há vários anos e escrevi um texto sobre. Então, já que reassisti eu vou fazer outro texto dialogando com o eu do passado. Numa espécie de "Eu por eu mesmo".

 

Aqui já coloco os três primeiros parágrafos:

"Solidariedade espontânea. Foi essa a expressão que ficou na minha mente após assisitir ao filme O Poço.
Mas o que venha a ser isso? Solidariedade pode ser entendida por cooperação, sentimento de empatia, ajuda. Bastam estas três palavras para descrever o que acontece no  filme: egoismo feroz. Falta de empatia. Mesquinheza.

No filme, ainda não compreendo se é por vontade própria ou por pena imposta em virtude de algum delito, os participantes são "trancafiados" em celas, talvez a palavra mais adequada seja cômodos, com outra pessoa; são obrigados a conviver um mês em cada nível em um total de, me falha a memoria agora, mas creio que sejam trezentos níveis.

Você pode passar um mês inteiro em um nível próximo a "borda" do poço. Mas pode ir para o fundo do poço, não necessariamente o último nível, mas algo próximo ao nível 150 já é crítico. "

 

A primeira sentença do texto ainda é verdade para mim. O termo solidariedade espontânea surge em algum momento que não recordo do filme, mas não é no começo. Não sei se é com a chegada da mulher do cachorro sabor de salsicha... Se posto em prática esse conceito, mudariamos o mundo!

 

Mas, nesta segunda imersão na película, por favor, deixe-me falar do jeito que eu quero! Retomando, nesta segunda imersão na PELÍCULA, PE-LÍ-CU-LA. PEIPILEILICEUCUELEALA, já sou derrubado do banco na primeira frase do filme, ou melhor, película:

 

"Existem três classes de pessoas: as de cima, as de baixo e as que caem"

 

Lendo em um rascunho que fiz no dia que reasisti, e que pretendo um dia também torná-lo publico, quem sabe junto deste aqui, "só esta frase seria capaz de produzir um tratado". Não que a solidariedade espontânea também não seja, mas esta tem um cheiro muito pedante. Meio que acadêmico, filosófico anacrônico.

 

Agora, as três classes de pessoas estão  aqui: sou eu e você (ora estou em cima e você embaixo e vice-versa) e o absorto, que é aquele que cai; toma consciência da realidade que o envolve e desaba; feito uma herdeira, que ao se ver única detendora de bilhões e mais bilhões, decidiu doar tudo e ficar com mízeros trezentos milhões de dólares. Mas, como a sua queda fora curta, não causando o impacto necessário para um despertar furioso e libertador, resolve voltar atrás e ficar com a herança toda. Assim, existem essas três pessoas: As de cima, as de baixo e as que caem. Se eu fosse agora escolher uma mensagem para resumir o filme seria essa.

 

No segundo parágrafo, eu digo que não sei como eles entraram lá no poço. Veja bem o meu nível de espectador naquela época. Era muito medíocre! Não queria tenha melhorado... Veja que o filme mostra lá pelo minuto 40 a forma como eles entram no poço. Descobrir que é de maneira voluntária. Uma adesão pessoal. Agora, conversando com meus botões, como se dá essa adesão? Como eles ficam sabendo? E o que eles sabem sobre ele? Porque se ele está ali, se inscrevendo, é porque soube antes que havia um local onde ele poderia passar um tempo para finalmente ler o livro que ele queria, o Dom Quixote.

 

Haviam propagandas no jornal ou na televisão? Havia um período de isncrição no qual você enviaria um vídeo rebolando e alguém nomearia como escolhido para participar do Poço 2023? Não sei. São ejaculações mentais que faço agora.

 

São 333 nívies, seu George do passado. 333 com duas pessoas dá um total de 666. Arhhrhrhrhr! O número da Besta Fera! Isso. Como nada no mundo da arte é fruto do acaso, das constelações ou da força do horóscopo com seus ascendentes e descentendes e afluentes,  o número de níveis já nos diz que o Poço não é para amadores. É um local infernal! Ahrhrhrhr! Eu acerto quando digo que o tempo em cada nível é de 30 dias. Esse é o tempo no qual você passa em cima, em baixo ou decide cair. E acertadamente eu digo que para se chegar ao inferno, não necessariamente você deve chegar ao nível 333. Já no 150 por ai as chamas de alcançam.

 

Vou colar aqui outro grupo de parágrafo que escrevi há três anos:

 

"Por que ficar em cima, e quanto menor o nível melhor e por que ficar em baixo é ruim, e quanto mais baixo pior? Simples: existe uma bela e enorme refeição. Um verdadeiro banquete. Com os pratos preferidos de casa recluso. A refeição é disposta em uma plataforma que atravessa cada nível. Os primeiros dispõem de tudo. Os subsequentes ficam aguardando a sua vez e comem o que sobrou do nível de cima.

Como já narrei, se você esta em um nível superior, tem a oportunidade de se alimentar divinamente por um mês. Ganhar calorias, engordar, já que o mês que vem você não sabe para qual nível será enviado. Porém, se você se banquetear, os níveis inferiores podem não ter o que comer. 

Alguém que está no nível superior pode dizer: mês passado eu fiquei no nível 178. E o meu único alimento foi o cadáver do(a) meu/minha parceiro(a). Ninguém pensou em mim".  Bem, é um argumento muito forte. Mas, e se for esse o argumento que esteja provocando toda a desordem no poço?"

 

Vamos lá desossar este texto e ver o que podemos sugar dele até as entranhas! Arhrhrhrhrhr! Desculpe, é que entrei no espírito da coisa.

 

"Por que ficar em cima, e quanto menor o nível melhor e por que ficar em baixo é ruim, e quanto mais baixo pior?"

 

Aqui, eu posso ouvir o senhozinho da faca falando: "É óbvio!" E realmente é óbvio mesmo. Quem está em cima se farta. Quem está em baixo se lasca. Faça o seguinte exercício comigo: coloque suas mãos na cabeça, eleve suas nádegas e dê uma leva rebolada, depois ainda com as mãos na cabeça, se acocore e se levante rápido; enquanto isso eu vou citar uma das nossa obras primas: " É que o de cima sobe e os de baixo desce", o xibom bom bom é opcional.

 

Entendeu a mensagem do filme? É simples, ou óbvio! Quem está em cima não tem solidariedade alguma com quem está em baixo!!!! Come-se, farta-se, lambuza-se, pisoteiam, urinam, cospes e defecam em quem está no nivel inferior. Não estão nem ai para o outro, pois, "se mês passado fizeram isso comigo ,agora vão ter que me engolir!!!!" Este é mais ou menos o resumo do trechinho que acabo de presentá-los. Vamos para o próximo. Sim! Mas, não posso terminar sem comentar a pergunta que deixo no final do parágrado e que coloco aqui por inteiro para não perder o sentido:

"Alguém que está no nível superior pode dizer: mês passado eu fiquei no nível 178. E o meu único alimento foi o cadáver do(a) meu/minha parceiro(a). Ninguém pensou em mim".  Bem, é um argumento muito forte. Mas, e se for esse o argumento que esteja provocando toda a desordem no poço?" E se for realemente este o argumento!? No BBB (leiam esta sigla com deboche, pois foi assim que eu falei ao escrever. Por que ler assim? PAra dá mais sentido ao texto, somente.) 2023, em que pese eu não assitir, mas creio que forças vindas do nível 333 quer que eu saiba de fofocas que lá acontecem, parece que um jovem rapaz oprimido por  ser um fisioterapeuta decidiu estudar e ralar muito e se dedicar para finalmente conseguir o cano de "doutor" médico com um único propósito, ser auxiliado pela enfermeira que o oprimiu, dando a enteder que agora ele era o opressor.  O que é isso se não for o Poço aplicável no nosso dia a dia? Será que essa cede de vingança não é o que  faz o poço ser o que ele é? (deixo aqui essa interrogação para o eu do futuro responder). Vamos para os próximos parágrafos.

 

"Agora, refiro-me a  nós, pessoas fora do poço. Vou citar um exemplo simples: uma loja em dia de Blackfride. Nessa analogia, o poço seria da porta da loja para trás. Quem está na frente, está nos primeiros níveis. Infelizmente, quem está longe, provavelmente não está em um bom nível.

Quem esta na frente, ao serem abertos os portões, sai correndo para o seu "banquete". Quer pegar os bens mais valiosos na promoção. Pessoas se empurram. Pisoteiam idosos. Xingam-se. Destroem parte da loja. Em fim, aos últimos que conseguem entrar na loja, só lhe restam poucas coisas quebradas ou sem atratividade para esboçar uma disputa com outros desvalidos da sorte. Nítida falta de solidariedade espontânea. 

Outro exemplo, esse mais simples ainda. Uma festa surpresa de aniversário. O aniversário de um colega na repartição. Pronto. 100 salgados. 100 docinhos. A pessoa que recebe a encomenda pensa: 100 salgados e 100 docinhos. Se eu pegar um não ira fazer diferença. E pega. Chega Outro, ao ver o lanche exposto e sem vigia, também resolve pegar alguns. Arruma bem direitinho e sai. E assim por diante. Cada um que chega parte do princípio de que o pouco que retira não sera percebido e nem fará falta. 
Mas os cálculos foram feitos para cada um ficar com 5 salgadinhos e 5 docinhos. O aniversariante chega. Canta-se os parabéns e divide-se a comida, de sorte que fique 5 para cada de docinhos e salgadinhos. Porém, em um determinado momento, faltam docinhos e salgadinhos. Mas todos contribuíram.  Só que teve gente que não recebeu!  Imediatamente cria-se aquele clima ruim. Alguém comeu mais do que o combinado."

 

Perfeito! Aqui, começo dando dois exemplo, com aquele que já apresentei, o do BBB, são três. Assim, ninguém vai me questionar que discorri apenas de forma teórica sobre este assunto e esquecendo-me de apresentar situações práticas. Nada disso! Ninguém ira me acusar de ser superficial!

 

Os exemplos que dei foram o da Blackfride e da festinha na repartição. Em ambos os exemplos podemos aplicar o princípio da solidariedade espontânea, apesar de não ter falado nada sobre ela até agora, é um conceito tão primitivo que até as galinhas conseguem observá-lo. Por considerar autoexplicativo e já tendo dado o meu exemplo mais atual sobre  a vivência neste poço, parto para ver  o que escrevi como conclusão do texto de 2020:

 

"

Um terceiro exemplo. O quê se tem observado nessa quarentena? Pessoas desesperadas. E desesperadamente o do comprar suprimentos, comidas, remédios. E a grande procura causa o desabastecimento.
Além da tal elevação dos preços. Quem está dia te de uma prateleira com álcool em gel, em algum supermercado, se e te de no direito de levar quantos quiser, uma vez que ele está ali.   Não importa quem venha depois. Aliás, se quisesse o produto, que saísse antes dos outros. Desta forma, quem chegou primeiro claramente está numa posição privilegiada no poço. Enquanto os demais esperem por sua vez. Isso se conseguirem sobreviver.

 

É, amigos. Parece que também estámos em um poço. A única diferença é que aqui se tem um pouco mais de espaço. "

 

Ahhhh! Dei mais um exemplo! E este bastante clássico e que resume bem todos os outros.

 

Nesta pandemia nunca se colocou tão em pratica alguns dos ditados populares que representam os moradores do poço. Farinha pouca, primeiro meu pirão. Não quero saber quem pintou a zebra, quero é o restinho da tinta e por ai vai... É uma filosofia da degradação. Esta é a conclusão que chego após 3 anos de o ter assistido pela primeira vez. Continuo achando que a diferença entre a gente aqui fora e os que estão reclusos no poço é só que aqui tempos mais um pouco de espaço.

 

 

 

 

 

 

George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 23/01/2023
Reeditado em 02/02/2023
Código do texto: T7701998
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