Confissão obrigatória

O que diriam as pessoas se, diante de uma arma apontada para a cabeça, fossem obrigadas a confessar todos os seus segredos e pecados? Esta é a temática do ótimo filme “Por um fio”, que tive o prazer de rever oito anos após seu lançamento.

Seu diretor – Joel Schumacher – aposta em uma história simples na vertente do suspense. O conteúdo e toda a densidade dramática estão nos diálogos tensos entre o protagonista (o publicitário Stu Shepard) e o seu algoz (um franco atirador que muda completamente o seu dia e a sua vida).

Stu Shepard – personagem muito bem interpretado pelo ator Colin Farrell – é um homem de caráter duvidoso e disposto a tudo para se dar bem na vida. O que ele não poderia imaginar é que a sua rotina de ligar todos os dias de uma mesma cabine telefônica pública o colocaria frente a frente com a morte.

As ligações costumeiras para uma atriz em início de carreira, a quem tenta conquistar fora de seu casamento aparentemente feliz, terminam sendo o estopim para a ação de um suposto lunático. Escondido em algum prédio da redondeza, o misterioso indivíduo brinca de Deus, armado com um rifle de mira telescópica. Ao contrário de outros filmes do gênero em que francos atiradores agem como terroristas políticos ou assassinos de aluguel, em “Por um fio” o motivo do estranho matador é aparentemente sem qualquer nexo.

Nessa obra de 2002 há uma ideia fascinante e universal que sustenta todo o enredo: diante da morte o ser humano se ajoelha, humilha-se e consegue enxergar o tamanho da sua própria insignificância. Nada do que ele é capaz de conquistar à base das mais incríveis artimanhas faz sentido quando a sua vida está por um fio.

O franco atirador termina sendo uma espécie de superego de Shepard, capaz de obrigá-lo brutalmente a um exame de consciência (aquele que muitos são levados a fazer no tradicional confessionário católico). Por uma via torta e cruel, o misterioso “juiz” acelera o papel que normalmente o tempo desempenha, ao curvar as pessoas orgulhosas diante de tudo aquilo que é inexorável na vida.

Nesse filme de Joel Schumacher (que também dirigiu os imperdíveis “8 Milímetros”, “Linha Mortal” e “Um Dia de Fúria”) uma cabine telefônica localizada numa das avenidas mais movimentadas de Nova York se torna o confessionário de um homem que fez da sua própria história uma grande farsa. A diferença está nos ouvidos que registram as confissões e na sua disposição de fazer ou não algum julgamento delas. O medo da morte liberta?