Guerra, paixões e lembranças
Seja na vida real ou na ficção, as releituras trazem sempre a chance de novas percepções sobre temas recorrentes. Ler mais de uma vez o mesmo livro ou ver novamente um filme é um ótimo exercício para os que buscam se atualizar sobre si mesmos.
A minha paixão pela sétima arte sempre me leva a retomar, em intervalos irregulares, obras que considero enriquecedoras. Assim foi com “O Paciente Inglês”, filme dirigido por Anthony Minghella em 1996, que faturou nove estatuetas do Oscar no ano seguinte.
Trata-se de um verdadeiro espetáculo não apenas pelo excelente enredo e pelo desempenho impecável do elenco, mas pela trilha sonora e pela fotografia obtida em filmagens na Itália, no Norte da África e no Deserto do Saara. O filme não se restringe a contar mais uma saga de amor. Bem mais do que isto, é uma tentativa de se buscar nos recantos mais escondidos da alma as motivações que levam alguém a cometer loucuras, a realizar feitos impensáveis em nome de uma paixão.
O drama tem três personagens principais: Hana (Juliette Binoche) – enfermeira canadense que vai parar na Europa, como voluntária, durante a Segunda Guerra Mundial; Conde Almasy (Ralph Fiennes) – arqueólogo que sofre um terrível acidente e perde a memória; e a mulher de um grande amigo seu (interpretada pela atriz Kristin Scott Thomas), com quem vive uma tórrida aventura de amor.
No final da guerra, logo após ter sido divulgada a declaração de paz, Hana se vê às voltas com um paciente em estado terminal, que passa a ser a sua principal motivação na vida. Em meio aos tantos feridos que cuidou e aos tantos que viu morrer, a enfermeira resolve levar o paciente “recém-adotado” para um mosteiro abandonado em território italiano. Lá, nasce uma afetividade por aquele indivíduo estranho e intrigante, que tem as portas fechadas para o próprio passado.
São as lembranças de Almasy o fio da meada que desenrola toda a trama, unindo passado e presente e também definindo as fronteiras que separam vida e morte, falta de sentido e razão para viver. “O Paciente Inglês” é baseado no premiado romance de mesmo nome, do escritor Michael Ondaatje, e tem ainda no elenco os ótimos atores Willen Dafoe e Naveen Andrews (este atualmente presente na série Lost, no papel do iraquiano Sayid Jarrah).
Em obras como esta, que permeiam a literatura e o cinema, somos levados a extremos que nem sempre temos a chance de vivenciar concretamente. Mas é também através de experiências coletivas que os indivíduos norteiam as suas próprias histórias, seus planos para o futuro. Assim, das paixões alheias (reais ou imaginárias) tiramos fragmentos essenciais para entender as nossas.