A vida segundo Benjamin Button
Bem mais do que curiosidade, o filme “O Curioso Caso de Benjamin Button” despertou em mim um verdadeiro deslumbramento por constatar a capacidade que tem o ser humano de mergulhar fundo em sua própria existência. Como tem acontecido nos últimos anos, em que só consigo assistir aos filmes indicados ao Oscar quando são lançados em DVD, há bem pouco tempo é que tive acesso a esta que já considero uma obra-prima do cinema.
Apesar de só ter ganho três das treze indicações ao Oscar 2009, essa megaprodução é uma síntese muito bem sucedida de um dos temas mais antigos da humanidade: o inexorável caminhar rumo ao fim da vida. Mesmo sendo as mais óbvias das certezas, o envelhecer e o morrer mexem tanto com o cotidiano das pessoas que quase tudo em sua trajetória gira direta ou indiretamente em torno dos dois.
Dirigido por David Fincher e estrelado por Brad Pitt e Cate Blanchett, “O Curioso Caso de Benjamin Button” é um filme que usa elementos do realismo fantástico para contar uma história inusitada. O seu protagonista (que dá nome à obra) é alguém que nasceu com uma estranha e enigmática sina: fazer o caminho inverso ao de qualquer ser humano.
A história começa em 1919, quando Benjamin vem ao mundo com uma doença desconhecida: sua aparência física e funcionamento orgânico são os de um homem em torno dos 80 anos. A princípio tido como uma espécie de aberração, ele, aos poucos, vai se inserindo no cotidiano das pessoas ao seu redor exatamente como o que aparenta ser: um idoso. No entanto, a sua infância, adolescência e vida adulta vão se desenrolando num nítido processo de rejuvenescimento.
Como costumo fazer em minhas resenhas sobre filmes, paro por aqui para não estragar o prazer de quem ainda não assistiu. Na verdade, meu interesse não é dissecar “O Curioso Caso de Benjamin Button”, e sim usá-lo como mote para abordar um assunto que a todo instante bate à nossa porta: a morte.
Quando alguém muito querido parte subitamente desta vida, como aconteceu no último domingo com a irmã de uma amiga, somos tomados de assalto pela constatação de nossa própria fragilidade. Mais até: somos forçados a pensar sobre qual o sentido da existência humana. Será que rejuvenescer, como Benjamim Button, amenizaria a angústia de constatar que haverá um final? Será ainda que obter a juventude eterna – como fez as personagens Fausto (de Goethe) e Dorian Gray (de Oscar Wilde) – nos livraria de outras dores típicas desta mesma caminhada?
Como somente através da ficção é possível simular condições outras que não as que temos de fato, resta-nos tirar as melhores conclusões que pudermos deste exercício catártico. Uma vida como a de Benjamim Button, por exemplo, seria dolorosa demais para mim.
O envelhecer (principalmente se for sinônimo de amadurecer) é tão salutar que, se soubermos acionar as “teclas” certas, pode nos trazer muito mais benefícios do que malefícios. Tudo depende da maioridade espiritual que cada um deseja adquirir.