Amor é sacrifício?
Há filmes que são tão bons, que marcam tanto, que precisam ser assistidos pelo menos uma segunda vez. Mesmo não estando na categoria dos cinéfilos, sou aficionado pela linguagem cinematográfica e me sinto bastante instigado diante de suas obras mais marcantes.
É o caso de “As Pontes de Madison”, filme de 1995, dirigido pelo veterano ator Clint Eastwood, que também atua no papel principal, ao lado da fantástica Meryl Streep. Mais de uma década depois de tê-lo assistido pude revê-lo no último fim de semana, quase com a mesma sensação de ineditismo da primeira vez. Lembrava-me de poucas cenas (felizmente as do começo), o que fez desta releitura um prazer em dobro.
A história de amor desse drama poderia fazer dele um lugar comum, mas não faz. Simplesmente porque nada na história é grandiloquente ou chocante. Talvez o possível incômodo para muitos venha do fato da personagem de Meryl Streep (Francesca Johnson) – uma dona-de-casa absolutamente correta e devota à família – se permitir vivenciar uma paixão avassaladora em plena meia idade.
Na verdade, o incômodo mesmo só aparece devido ao evidente caso de traição, que vem à tona num momento da história de Francesca em que nada mais parecia abalar a sua vidinha previsível numa propriedade rural do condado de Madison, no estado de Iowa-EUA. A chegada do experiente fotógrafo da National Geographic – Robert Kincaid (vivido por Eastwood) – é um divisor de águas na vida daquela mulher, que é obrigada a tomar, em apenas quatro dias, a decisão mais difícil que alguém como ela poderia tomar.
Este texto é um convite não apenas a quem gosta de bons filmes, mas a todos os que se vêem diante de escolhas difíceis ao longo da vida, principalmente em se tratando de casamento ou mesmo de namoro. Em “As Pontes de Madison” a paixão intensa e fugidia vivida por Francesca termina sendo um “tapa-na-cara” de seus próprios filhos. Eles, que eram adolescentes quando tudo aconteceu, são convidados a repensar suas próprias relações, assim como a olhar de um jeito mais profundo para aquela que sempre viram apenas como uma recatada rainha-do-lar.
Na ficção e no mundo real há inúmeras histórias de renúncias individuais em favor da pátria, da família e de outras instituições sociais. Quantos não foram ou são julgados e condenados simplesmente por buscar a própria felicidade! Quantos não morrem amargurados ou culpados por ter escolhido os caminhos tortuosos dos sacrifícios que os outros esperam, em vez da simples liberdade a que todo ser humano deveria ter para deliberar sobre a própria existência!