Controle da própria vida
Mesmo para os que não acreditam em destino é difícil contestar o fato de que não temos o controle de nossas vidas. É com este mote que o diretor Frank Coraci montou a comédia “Click”, protagonizada pelo ator Adam Sandler.
O filme, de 2006, conta a história do arquiteto Michael Newman, que coloca o trabalho e a ascensão profissional acima de tudo, inclusive da própria família, que ele mesmo diz ser o que há de mais importante. Tudo muda quando Newman compra de um vendedor esquisitão (vivido pelo ótimo Christopher Walken) um controle remoto da própria vida.
Sem contar mais do que a própria sinopse do filme, o que essa trama fictícia propõe é uma reflexão sobre o que somos tentados a fazer para nos livrar do que consideramos obstáculo. É claro que há, sim, inúmeros momentos e pessoas que gostaríamos de ver pular na mesma velocidade máxima que passamos um trailer indesejado num DVD. Ao contrário, há instantes que desejaríamos reviver ou congelar de tão bons que foram.
Em “Click” o poder de mudar o próprio destino está literalmente nas mãos de Michael Newman. Apesar disto, e mesmo tendo à disposição tão poderoso objeto, não é nada fácil para ele fazer as melhores escolhas. Assim é para os que, por exemplo, têm na vida real dinheiro de sobra para comprar o que quiserem. Assim também é para os que ocupam os cargos e funções mais cobiçados e estratégicos do planeta.
Penso às vezes que existimos tão superficialmente que não suportamos olhar além do que nos mostra o espelho. Buscamos soluções mágicas para nossos problemas, como o controle remoto do filme, porque mergulhar mais fundo requer fôlego e olhos bem abertos para enxergar o que há nas camadas abaixo da superfície.
No seu livro “Mais Platão, Menos Prozac”, o filósofo canadense Lou Marinoff ressalta que pensar sobre si próprio dá a qualquer um as melhores perspectivas de encontrar os caminhos mais apropriados para se trilhar. Para ele os ensinamentos do pensador grego Platão e de outros tantos das mais variadas épocas e vertentes filosóficas são sempre mais recomendados do que qualquer antidepressivo nos moldes do festejado Prozac.
Não é nada fácil adquirir o controle da própria vida, nem mesmo isto é possível de forma absoluta ou constante, como disse no início. Há, no entanto, circunstâncias bem mais favoráveis a esta conquista do que as que buscamos em cápsulas ou em receitas prontas. Num dos trechos de “Aquele abraço” – música de 1969 – Gilberto Gil diz: “meu caminho pelo mundo eu mesmo traço, a Bahia já me deu régua e compasso”. Traçar os caminhos com o que aprendemos de fundamental ao longo da caminhada é o mais próximo que chegamos desse controle que tanto queremos.