TAINÁ - A Luz da Manhã

TAINÁ – “A luz da manhã” – Livro: Talibã (ainda não foi publicado)

(baseado no filme Tainá)

O filme mostra, desde o início, traços marcantes da cultura indígena: inocência; naturalidade; sinceridade; personalidade; espiritualidade; contato íntimo com a natureza - interagindo com ela e se fundindo como elemento de uma receita nas mãos do Criador.

As cenas desfilam belas imagens da natureza e dos animais (grilo, sapo, cobra, tartaruga, jacaré, tucano, papagaio, ouriço, paca, onça pintada e macacos) – com foco neste último e na extinção de uma de suas espécies, como exemplo para os demais animais em situação idêntica.

O personagem principal é Tainá – uma indiazinha órfã, que vê seu avô morrer no começo do filme e se apega à lembrança dos seus ensinamentos para interpretar seus passos e as conseqüências dos seus atos no relacionamento tumultuado com o filho da cientista que teria descoberto a vacina para a febre da amazônia.

O filme defende a luta pela conservação da natureza e o combate ao tráfico de animais silvestres. A forma como foi dirigido lembra “A Lagoa Azul” – na trilha sonora e na fotografia.

Tainá dificulta a ação dos contrabandistas, desarmando armadilhas ou soltando os animais presos nelas. Protagoniza, juntamente com o menino (que aprende com ela a melhorar sua própria personalidade) uma ação espetacular que culmina na prisão da quadrilha e com a morte do casal de americanos que queria se apropriar do resultado da pesquisa da cientista.

O enredo é simples e a trama pobre, mas a mensagem é importante e a fotografia muito boa. Tem lances engraçados e momentos de ternura. É um filme para todas as idades e foi feito para sensibilizar e conscientizar. Mas tem, também, seus momentos de merchandising – com a Coca-Cola (refrigerante em lata), com a Brastemp (fogão e geladeira), com a Telefônica Celular (denúncia dos contrabandistas) e com a WEB (fabricante de relógio despertador) – que apoiaram financeiramente o filme, conforme consta na lista da ficha técnica e cujos produtos aparecem sutilmente (numa propaganda subliminar) durante o filme.

É uma produção brasileira mostrando a nossa realidade vinculada ao poder financeiro das grandes multinacionais – embora isso não esteja no enredo (está nas entrelinhas...). A proposta é ecológica, mas pode ter ido além. É uma pequena amostra de como o poder econômico comanda tudo, independente das iniciativas e de que segmento elas venham.

Mas não deixa de ser, também, uma forma de induzir as grandes empresas a participar de projetos de interesse popular. São os dois lados da moeda ou uma faca de dois gumes. Enfim, é o paradoxo do ser humano tentando compreender o incompreensível! Ou avançando para além da sua própria compreensão... Afinal, a Rede Globo também participou do projeto!

Seria um reflexo espontâneo da globalização? Haveria interesse real no “pulmão do mundo”, na pirataria industrial no mundo milionário dos produtos farmacêuticos, na extinção dos animais e na valorização da cultura indígena? Ou seria, apenas, mais uma iniciativa cinematográfica com finalidade específica de ganhar dinheiro?

São fatores polêmicos com garantia de pontos de vista diferenciados para discussão. Entretanto, qualquer iniciativa na sétima arte é, em si, fator de enriquecimento cultural. O canal visual tem um poder fortíssimo na comunicação em massa e nessa área nada acontece por acaso. Mas precisamos nos policiar para não ver fantasmas em sombras inofensivas. Embora, simultaneamente, devamos, também, estar atentos às incursões sutis ao nosso subconsciente nos direcionando ao consumismo desenfreado.

A Natureza é bela, importante, e precisa, realmente, ser conservada. Mas a natureza humana é complexa, tem um parafuso a menos na criação divina e precisa, no mínimo, ser vigiada.

“O homem é capaz de tudo. Porém, tem um grave defeito: pode pensar!”

Lourenço Oliveira
Enviado por Lourenço Oliveira em 12/03/2006
Reeditado em 09/10/2009
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