Ainda somos os mesmos?

A existência de qualquer pessoa só tem sentido se for marcada por uma contínua evolução. Lê-se evolução aquela maturidade que se dá nos planos espiritual, mental e emocional, e que vai se consolidando a cada nova fase de vida.

É como uma maratona em que milhares largam, mas bem poucos chegam inteiros ao final. E chegar inteiro na linha da vida é estar equilibrado no espírito e no corpo, na saúde e na afetividade, no profissional e nas finanças. Infelizmente, os ideais de sucesso e de felicidade, normalmente propagados, estão diretamente ligados à ascensão social com base no poder e no dinheiro.

Por outro lado, tem havido um movimento global na direção oposta, ou seja, tem aumentado o número dos que vêem o sucesso como sinônimo de qualidade de vida. E isto não está ligado necessariamente com ascensão social ou com a posse de bens materiais. Tem a ver com a (re)descoberta do que há de melhor na própria essência, muitas vezes deixado para trás na infância ou na adolescência, quando a vida ainda era motivo de alegria, leveza e esperança.

Em um de seus ótimos textos já publicados no jornal Estado de Minas, o escritor, compositor e articulista Fernando Brant analisa esse encontro com o eu do passado e da satisfação de ainda se perceber o mesmo em essência. Tudo acontece depois que um amigo lhe manda uma foto sua aos 14 anos, ao lado de companheiros. Para sua felicidade, a primeira reação ao observar a expressão e o rosto “daquele jovem aberto para as possibilidades do mundo e da vida” foi se reconhecer.

“A imagem revela a impressão que tenho de mim mesmo, quando me aprofundo na lembrança do que eu penso ter sido. É a cara do que eu era (...). Aquele menino brincava, estudava, tinha amigos. Não tinha maldade, estava crente de que a existência fosse fácil (...). Olhei para o eu de ontem, olhei para o que eu sou hoje (...). E o que mais me agradou, o que transbordou meu reservatório de água ocular, confesso sem modéstia, foi ver, no fundo de meus olhos de homem, a mesma luz que está no olhar do menino da fotografia.”

Nessa compilação de trechos do artigo de Brant é possível constatar que algumas pessoas crescem, amadurecem, se realizam profissionalmente, são reconhecidas por valores realmente nobres e ainda conseguem se manter os mesmos. Lendo o texto deste que é um dos maiores expoentes do Clube da Esquina e um dos melhores compositores da Música Popular Brasileira, pude reconhecer as minhas próprias buscas.

Sempre que me pego em meio às lembranças do passado ou mesmo diante das fotos da infância e da adolescência eu tento reencontrar as minhas melhores convicções. É óbvio que as convicções de uma criança ou de um adolescente são bem diferentes das de um adulto, mas existem algumas delas que estão intimamente ligadas ao que deve ser essencial na alma de uma pessoa, do início ao fim de sua passagem por esta vida. São elas que precisam ser reconhecidas hoje e amanhã com a mesma verdade de ontem.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 18/05/2008
Código do texto: T994441