Saudosa Maloca e a questão habitacional

Amigo leitor, amiga leitora, antes de iniciar meu texto permita-se postar aqui dois likns, um da letras e outro a música cantada por Adoniran Barbosa: Saudosa Maloca.

https://www.letras.mus.br/adoniran-barbosa/43969/

 

https://www.youtube.com/watch?v=tsr28imHhhA&list=PLgF5KLwzxU-0hj5W2ELJXNy_LzVTupz5g&index=2

 

A letra desta música de Adoniran conta a história da demolição de uma residência outrora abandonada para posterior construção de um prédio. Abandonada sim, desocupada não. Fora abandonado por seus donos, mas nela moravam três personagens, o narrador, Mato Grosso e Joca. Este é o resumo da letra. Uma letra composta em 1951 mais que cantada hoje dá luz a um problema que persiste há muito tempo em nosso país: a questão habitacional.

 

Usando como exemplo uma realidade que conheço, a cidade de João Pessoa tem centenas de imóveis abandonados. Imóveis antigos. Alguns inclusive tombados, mas abandonados. Por serem patrimônio histórico não podem ser demolidos à vontade do proprietário e nem reformado de qualquer maneira. Assim, parece ser melhor que o tempo se encarregue de fazer o que eles não podem: demolir. Assim, podem dispor do valiosíssimo terreno, inclusive para aconstrução de um moderno prédio como na canção. E como eu disse, na capital paraibana não são poucas casas antigas nessa condição. Tem uma rua na parte central, a rua da Trincheiras, quase todas as residencias ali estão abandonadas. Um ou outra são invadidas por moradores de ruas, catadores de reciclagem, guardadores de carros e também usuários de drogas. Nestes casos, os donos das residências abandonadas aparecem e expulsam os invasores ao arrepio da lei, ou saem ou morrem. Estes vão para a casa do lado e ficam lá até serem expulsos novamente. Como diz a letra: " Os homens estão com a razão. Nós 'arranja' outro lugar."

 

As vezes conseguem pagar 400,00 ou 500,00 reais por um cubículo pequeno com três partes, na beira do mangue, para abrigar 5,6,7,8 pessoas e mais um cachorro e dois gatos. Isso é realidade na turística João Pessoa. Quando não pisponhem do valor para pagar o aluguel de "quatro telhas" se organizam e invadem um campo de chão batido onde as crianças brincavam à tarde. Do dia para noite nasce quase uma centena de barracas de lona preta. Como geralmente essa invasões são nas áreas mais distantes do centro cultural-comercial-turístico da cidade, então ficam lá por anos. Um dia, por trabalho, visitei uma dessas comunidades, batizada de Capadócia, em homenagem a uma novela da época, parecia uma zona de guerra.

 

 

E, como se resolve esse problema? A brilhante ideia dos governantes de construir 10, 20 blocos de prédios de três andares. Só que esquecem de colocar junto a este conglomerados escolas, posto de saúde e de polícia, área de recreação para crianças.

 

Certo dia a prefeitura fez uma audiência pública para avisar que um grupo de casas riberinhas a um rio seriam demolidas e que seus moradores seriam direcionados para novos e modernos prédios construídos pela prefeitura. Todos presentes aplaudiram a secretária. Foi aberta a fala aos participantes. Como ninguém quisesse falar eu fui. Fiz Algumas perguntas a uns participantes e que respondessem levantado a mão. Primeiro perguntei quantos ali tinha mais de 4 filhos . Quem tinha mais de 2 animais de estimação, quem tinha quintal, e quem criava porco, galinha, pato, e por fim, por último perguntei quem estava matando rato à paulada conforme dissera a secretária em sua fala.

 

Muitas responderam afirmativamente aos meus questionamentos. Se uma família tem 4 filhos com pai e mãe são seis e as vezes tem os avós morando na mesma casa, já são oito. Coloque mais 2 cachorros  ficam 10 seres vivos dividindo um espaço de uma sala, dois quartos, uma cozinha e um banheiro, todos pequenos. Quem cria galinha, ou outro animal ira colocar onde a sua criação? E quem aqui vive matando rato à paula? Ninguém se manifestou! Por vergonha? Talvez. Havia rato? Sim, mas para matar de pau como se fosse uma peste, não. Enquanto eu falava, um auxiliar desliga o micrifone e diz que a pilha está fraca coisa e tal. Quero outro microfone, mas a secretária se levante e diz que em virtude da hora não seria mais possivel estender o debate, e gritando de entusiamos falava que dali a uns 8 meses a vida deles seria outra, uma vida melhor!!!! Era a prefeitura trabalhando por quem mais precisa!!! Todos aplaudiram de pé. 

 

Hoje está lá a duas grandes comunidades. O Vale das Palmeiras II e o Paulo Afonso. Conforme eu tinha falado, com 6,7,8 pessoas em um cubículo de 40 metros quadrados. Geralmente  tem um grupo toma "conta" e caso você não se enquadre nos mandamentos da "comunidade"  é expulso à paulada, igual aos ratos da secretária, aqui não coloco aspas, pois as paulas são de verdades, para que outro apoiado pela direção da comunidade possa ocupar o apartamento. E nem sinal do poder público. Tem comunidade dessas que nem a polícia entra! Fica então o questionamento: A prefeitura resolveu o problema de quem?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 06/01/2023
Reeditado em 06/01/2023
Código do texto: T7688171
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