“Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões”: a gramática normativa e sua (des) construção

Mas o que é mesmo “gramática”?, texto de Carlos Franchi, elucida alguns pontos fundamentais para quem estuda linguagem e para quem participará como educador no processo de aprendizagem de crianças e de adolescentes no ensino de língua. Franchi desenvolve os argumentos de seu texto mediante a caracterização de Gramática Normativa, Gramática Descritiva e Gramática Gerativa. Sabendo-se da existência de um conjunto sistemático de normas que padronizam a língua, isto é, a gramática normativa, nota-se que, na Educação Básica como um todo, aquela se constitui como um bloco cristalizado de normas gramaticais da Língua Portuguesa, que tem sobremaneira um referencial constitutivo baseado em formas elitistas (no sentido de estar em um patamar elevado) de escrever e de falar.

Muitas vezes a linguagem dos alunos não tem correspondência semelhante à gramática que lhe ensinam na escola, e interessante é notar que, mesmo desse modo excludente, sabe-se da capacidade que os alunos têm de formular todas as sentenças gramaticais de sua língua materna sem ter conhecimento teórico desse funcionamento sistemático. É justamente essa a questão que se apresenta no texto de Franchi, quando o mesmo apresenta a teoria chomskyana (Gramática Gerativa) em que a linguagem é tomada como uma propriedade inerente a todo ser humano, seja de maneira biológica, ou de maneira psíquica, que faz com que cada sujeito tenha aporte linguístico suficiente para o entendimento de regras linguísticas e o acesso ao uso delas.

O mais importante a ser considerado no texto de Franchi são as conclusões que ele faz, concebendo o domínio da gramática normativa como indispensável para os professores de Língua Portuguesa, uma vez que é esse conhecimento que permitirá a compreensão das outras modalidades gramaticais da língua, como, por exemplo, a modalidade utilizada por determinados alunos.

Acredita-se que o professor deve ter um aparato linguístico bastante desenvolvido para transitar entre todas as modalidades de gramáticas, para assim poder ter condições de ensinar aos alunos certas distinções que implicam em um conhecimento não preconceituoso da língua, como, por exemplo, a existência de uma língua escrita e de uma língua falada, as quais possibilitam situações comunicativas diversificadas que funcionam em certos contextos e em outros não. De maneira geral, ensinar língua é ter sim competência em gramática normativa, é não desconsiderar as variantes linguísticas, já que a evolução de uma língua é um fator externo que depende tão somente do uso da língua, ou seja, a língua evolui por meio da mediação dos falantes.

Não por acaso os modernistas (Modernismo como movimento literário) usavam o verso livre em seus poemas. Certamente eles tinham conhecimento suficiente da norma poética para poder abolir a métrica clássica e para propor uma nova forma de poetização. Conclui-se, então, que, assim acontece com a língua: quem tem conhecimento das normas pode desconstruí-las, sem receio algum de cair na “chacota” da ignorância.

Referências bibliográficas:

FRANCHI, Carlos. Mas o que é mesmo “gramática”?. São Paulo: Parábola, 2006.