Alemanha 7 X 1 Brasil
Sempre que assisti os jogos da seleção brasileira, principalmente nas últimas copas, a impressão que tinha é que, mesmo que se ganhássemos de cinco a zero do adversário, poderíamos, a qualquer tempo, ser surpreendidos com uma virada no placar. A seleção brasileira tinha, e tem, uma característica de não despertar nenhuma segurança para uma grande parte, para não falar a maioria, dos espectadores. A maneira aventureira com que entra em campo, a perda de oportunidades e a falta de finalização de jogadas, não convence. Aceitávamos, com orgulho, o emblemático nome da nossa seleção pentacampeã, justificados, diante das cirunstâncias, em um ou outro jogador, de nossa preferência, convocado para a elite do futebol, mas conscientes de que sempre faltava alguma coisa, como conjunto, harmonia, disciplina, método, garra e, justamente, esta última caracterísitica, a garra, é que nos fez esbarrar, no passado e desfavoravelmente, nos nossos hermanos argentinos.
Mas a Copa das copas, pelo menos para o mundo, mas não para nós, vinha mostrando claramente, até a tragédia brasileira, o equilíbrio de forças entre todas as seleções, que pareciam siturar-se no mesmo nível, indicando que somente o aproveitamento das oportunidades é que definiria a vitória. Mas, qual nada! Para nossa decepção, assistimos boqueabertos, no penúltimo jogo do campeonato mundial, com a Alemanha, em território pátrio, com imensa torcida, hino nacional cantado em capela e tudo o mais, uma cambada de patetas perdidos em campo, em pânico, liderados por um técnico, cuja arrogância e estupidez vinha sendo amaciada pela imprensa, convenientemente, em nome do bom relacionamento, da boa convivência e do bom senso. Esse técnico tosco, como um cafetão de bordel barato, cuja grosseria constrangia jornalistas e telespectadores , nem, sequer, se dava conta de sua empáfia.
O futebol é um imenso mercado, que cria e cultua celebridades, que corrompe gananciosos e que tem gigolôs de toda espécie, em todos os setores, e, entre eles, os da mídia. Assim como fizeram com o Maguila, explorado muito além de suas condições, até o primeiro soco-nocaute do Foreman, também fizeram e fazem com os jogadores brasileiros, que têm, lá sim, os seus talentos, mas ampliados assediosamente pelo interesse mercantil. Meninos de origens humildes, tornam-se idolatrados da noite para o dia, num complô internacionalizado e, como animais de raça, são comercializados daqui para ali, de lá para cá, recheados de dinheiro e de caprichos ilimitados, transformados em semi-deuses num mundo de ilusões. Movido pela paixão, pela emoção, o povo é conduzido e manipulado como gado, até a arena, este grande curral que arrecada a boa parte do financiamento deste esporte.
Desde muito, o futebol já perdeu a sua inocência. Tempos em que futebol era diversão, jogado sem outro interesse que não a disputa pela disputa. O futebol, então, passou a ser jogado, usando uma comparação tímida, como um jogo de pebolim apropriado por um colossal cassino.
Evidentemente que constatamos, até aqui, uma derrota irreversível, mas é reversível o desserviço prestado, pelo menos pela mídia, que deforma, para atender interesses espúrios, este excepcional esporte que tornou-se para uma maioria, possivelmente, uma válvula de escape de tensões.
Assistir a uma goleada de sete a um, para a seleção alemã, derrota não somente a nossa seleção, mas, também, todas as tentativas de justificarmos a derrota, chamando os nossos "semi-deuses" à realidade da desventura humana. Ficamos todos paraestésicos diante do inesperado absurdo. As pernas mágicas, que brincavam e que encantavam, como de bailarinas clássicas, transformaram-se em pesadas e descoordenadas pernas de grotesca dança bárbara. Os célebres senhores do futebol brasileiro foram desonrados e, tanto maior a desonra, quanto maior a celebridade e, sabem por que? Por que o futebol perdeu a sua alma encantada, tornando-se um negócio, um tráfico.
A seleção brasileira não queria jogar futebol naquele dramático dia, queria sim, bater bola, brincar com a caosca, como numa peladinha de final de tarde, de muito pra lá, pra cá, lero lero e malandragem, com as quedinhas manhosas e propositais na busca de faltas, do famigerado "levar vantagem" e, quem sabe, de "cavar" um pênalti. Mas a seleção alemã não! Queria jogo e, se possível, com o sortudo do Neymar, afastado pelo destino de tamanha desonra.
Não se ouviu dos brasileiros, naquele dia, o alto e heroico brado retumbante, nem o sol brilhou no céu da pátria naquele instante. O silêncio e uma grande sombra desafiaram em nosso peito a própria morte - do nosso futebol - . Quem diria!