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Perfil

Sou parte, seguramente, das últimas gerações que testemunharam, quando não participaram, das transformações culturais pós segunda guerra mundial.
Do tempo em que nossos pais eram tratados por senhor e senhora e pediam-se-lhes a benção ao dormir e ao acordar. Em que mãe era sagrada como Nossa Senhora.
Tempo das “horas dançantes” nas manhãs ou nas tardes de domingo, das “matinés”, dos filmes : Marcelino Pão e Vinho, La Violetera, Marisol, Europa à Noite, Ben Hur, Os Dez Mandamentos, Ringo, Roy Rogers, Rock Lane ... do tempo em que Sofia Loren, Gina Lolobrigida, Úrsula Andrews, Raquel Welch, Brigite Bardot e Catherine Denéuve, eram símbolos sexuais e de beleza. Kirk Douglas, Antony Quinn, Richard Burton, Rock Hudson, Charlton Heston, Juliano Gema, eram os galãs das moçoilas.
Do som dos Beatles e da Jovem Guarda, tocados em discos de vinil, numa vitrola portátil, à pilhas. Do tempo em que os Night Clubs tocavam Billy Vough, Bart Barcarat, Metais em Brasa, Glenn Muller. Em que se dançava de rostinho colado durante longo tempo, aos suspiros e apertos correspondidos. Em que se fazia serenata ao som de “Mon Amour Moi non Plus”,“Roberta”, “Ma Vie”, “Aline” e das músicas nacionais como: Uirapuru, Leva Eu, Ouça. . . Em que se recebiam autoridades e comemoravam-se datas festivas com bandas de música e que eventualmente se apresentavam em alvoradas. Época em que o filme somente começava após uma sessão de músicas de Paul Murriat e o “dim, dom” final de um gongo musical. Do tempo em que, antes do filme principal, passava-se a revista nacional, com notícias do futebol e da política, seguidas de desenho do Tom e Jerry e do Piupiu. Sou do tempo dos parques de diversão, em que se oferecia, pelo alto- falante, uma música a uma garota, seguida de uma mensagem apaixonada, "com muita prova de amor" ou "de amizade". Do tempo das figurinhas carimbadas de craques do futebol: Didi, Vavá, Pelé, Garrincha, Nilton Santos... Do “offside”, do “corner”, do“center half”, da “banheira”. Tempo em que o jogador de futebol usava sunga e suporte – um tecido elástico, largo, que dobrava-se uns quinze centímetros sobre o calção, parecendo com um cinturão -. Do tempo da mini – saia; em que os garotos estudantes deixavam cair o lápis ou a borracha para olhar as pernas da professora e das colegas. Em que se disputavam rodadas de bilboquê, de ioiô e que se pegava peão à mão, fazendo-o “dormir”; do jogo de “Finca”. Do tempo das novenas, das procissões e em que se fazia prova de resistência para ver quem aguentava maior número de pingos de velas na palma da mão; dos banhos nas chuvas de verão e dos barquinhos de papel nas enxurradas. Em que se sentia o cheiro da terra e da vegetação molhadas ao cair da chuva. Das radionovelas com muito chiado: “Jerônimo – O Herói do Sertão”, “ O Direito de Nascer”. Tempo em que as garotas, após o almoço, liam fotonovelas, e os meninos revistinhas do Tio Patinhas, do Pato Donald, do Zorro, Rock Lane, Fantasma e tantas outras… Em que revistinhas pornográficas eram de desenhos em quadrinhos. Da calça Lee e da Jaqueta da U.S. Army. Do avião de hélice e da jardineira, com bagageiro no teto e quebra – sol de plástico verde no pára–brisas. Da cuba–libre e do hi-fi, das batidas de nomes curiosos como: “calcinha de nylon”, “leite de onça” e do ponche. Da camisa Volta ao Mundo, da calça de tergal, da pantalona, da boca de sino e da botinha sem meia. Do tempo em que era careta falar bem do governo, tempo dos shows de calouros e dos festivais; do lança perfume nos carnavais. Do tempo em que se jejuava na Semana Santa e uma hora antes e depois da comunhão. Em que não se podia mastigar a hóstia. Em que se frequentava a missa todos os domingos, bem vestido, e que se participava de grupos cristãos; em que se era chamado de “pão” pelas garotas. Do “Renault Dophine” e do “Gordini, do Puma, do Dojão e do Karman Guia; da televisão em preto e branco, da luz de aladim, do telégrafo pelo código Morse, do equipamento de dentista a pedal, da água não tratada, da Maria Fumaça, dos canarinhos, cardeais, azulões, patativas, pintassilgos, curiós, sofrês, sanhaços, marias – pretas, coleirinhas, soldadinhos e tantos passarinhos...
Sou desse belíssimo tempo passado, deste fascinante presente e de um futuro certamente empolgante.

(Este é um trecho dos escritos da minha vida)