BBB, segundo Martha Medeiros
Mesmo para quem deliberadamente não assiste ao Big Brother Brasil (BBB), como eu, é praticamente impossível se esquivar das chamadas e propagandas da Rede Globo para este batido reality show, que caminha para sua nona edição. Quando não são os apelos para a compra de pacotes pagos que dão direito a imagens e áudios exclusivos da intimidade dos participantes, são as inserções repentinas de reportagens sobre o programa.
Em outro texto, intitulado “A defasada fórmula do BBB”, já tive a oportunidade de expor que penso dessa produção que insiste em sobreviver na televisão brasileira. Não pretendia tocar mais no assunto até que li uma ótima crônica da escritora gaúcha Martha Medeiros. Com livros publicados e uma coluna semanal no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, ela vem conquistando novos leitores a cada dia, cativados pelo seu jeito leve e preciso de abordar temas diversificados.
Em "Guerreiras e heróis", Martha ironiza a forma com que os selecionados a viverem na casa vigiada costumam se autodenominar ou mesmo como o apresentador do BBB – Pedro Bial – se refere a eles. Num dos trechos do seu texto, a escritora conta que viu uma chamada para o programa em que uma das participantes olhava para a câmera e dizia, com ar dramático, que era uma guerreira.
“É de dar nos nervos. Guerreira por quê? Por que está participando de um programa de televisão que vai levá-la, no mínimo, à capa da Playboy? Guerreira porque foi escolhida entre milhões de candidatos para ficar comendo do bom e do melhor e jogando conversa fora com um monte de desocupados? As pessoas não têm culpa de ser burras, mas mereciam uma surra por se levar tão a sério”. Não escrevi este parágrafo, mas confesso que há bastante tempo, desde as primeiras edições do BBB, pensei algo no mesmo contexto.
Ela não parou por aí. Mesmo defendendo que Pedro Bial está apenas fazendo o seu trabalho e repetindo o que está no script, a cronista gaúcha diz que o jornalista da Globo perde a noção quando chama os “brothers” de "nossos heróis". Sobre isso alfineta: “a troco de que usar essas expressões graves e superlativas para falar de uma brincadeira televisiva onde todos sairão ganhando? O que irrita no Big Brother, mais do que sua inutilidade, é o fato de os participantes serem tratados como vítimas”.
Neste momento a escritora convida seus leitores (e faço o mesmo aqui!) a refletirem sobre quem são os heróis de verdade. Citando um arquivo sobre o programa “Médicos sem Fronteiras”, que há algum tempo vem circulando pela internet “de mão em mão”, ela lembra dos homens e mulheres que abrem mão do conforto de suas casas para fazer trabalho voluntário em aldeias na África, em clínicas móveis no Líbano ou mesmo nas ruas do Brasil.
“Isso é heróico, isso é ser guerreiro. Quantos de nós, bem nascidos e bem criados, abrem mão de seus pequenos luxos para ajudar quem precisa? Por isso, se você é da turma que liga pro Big Brother pra votar em paredões, pense melhor antes de erguer o telefone. Direcione sua ligação para um programa assistencial, gaste seu dinheiro com algo que realmente seja útil. Cada vez que tiver o impulso de ligar pra tirar fulano ou sicrana do programa, se toque: tem gente mais necessitada precisando da sua ligação. O site do Unicef traz uma lista de entidades que você pode colaborar dando apenas um telefonema”.
O que dizer depois disso? Acrescentaria apenas meu nome no final da lista se o texto de Martha Medeiros fosse um abaixo-assinado para tirar do ar o BBB.