ANDO COM SAUDADE
(Sócrates Di Lima)
Estou com saudade de um luar de prata,
De sentar a uma mureta e olhar o céu,
Ver as luas dos teus olhos na hora exata,
Em que descubro-lhe da noite o véu.
Saudades dos abraços apertados,
Que se ouve das vértebras os sons.,
Do carinho nos sorrisos escancarados,
Do gosto anestesiante dos batons.
Saudade de um dia qualquer,
Da estrada que ruma ao horizonte.,
Saudade inteira dessa mulher.
Que faz-me a alma arrepiante.
Estou com saudade de estar com ela,
Daquele olhar luminoso.,
Daquele jeito gostoso,
Que só existe no jeito dela.
Saudade de uma cachaça boa,
De um queijo de Minas apimentado.,
Do meu cantar desafinado que atordoa,
Mas que deixa o coração dela arrepiado.
Saudade das tardes de sábado,
Das peripécias de mulher menina.,
Saudade do beijo roubado,
Da vontade de beber água na mina.
Ah! Que saudade mais louca,
DE ouvir um bem querer da sua boca.,
Da voz brava e quase rouca,
Que faz-me perder nesta saudade que não é pouca.
Há no meu desejo uma lucidez,
Estonteante e íngrime de vontade,
De gritar com certa altivez,
Fazendo-a sentir as razões da minha saudade.