Pétalas de Flores aos Porcos
Entro na lanchonete. Uma senhora / mãe tatuada, corpo torneado e sem máscara tapando as narinas e boca, lava a pia. Peço algo para comer. Diligente, a garçonete multi-uso corre para atrás do balcão.
- deixou a torneira aberta. Mantido o volume de água, em 1min e meio, já foi um litro do ouro líquido precioso.
- sem pobrema. Logo fecho, a preferência é sua.
- o reservatório que nos abastece só está com 30% da capacidade máxima. Em breve, faltará água.
- sem pobrema. Pior é o vazamento em minha casa. Tô com medo que o teto caia sobre eu e meus fios.
- fios de cabelo lavados sem xampoo? Sem pobrema. Paga aluguel?
- sim. Falo pru dono, Ele num tá nem aí
Como tá difici mão de obra?
- Sem pobrema.
Faço careta, dou de ombros, viro às costas e saio indagando os meus botões, quem pariu e deu inteligência, para um povo como esse!
E a resposta vêm do além: "culpa do diabo". E ratifica: " a culpa é sempre do diabo"! Volto à realidade e vocifero: "quanta miudeza neste fim de feira nosso, de todo dia. É pena Eu não ser ignorante, morreria de sede de raciocínio lógico fundamentado; pois, acima de tudo, falta de inteligência intuitiva faz o estupro coletivo".
Porém, reconheço que não estou imune às bestialidades e estupidezes dos inteligentes; pois, de tanto conviver com os porcos, acabarei tomando lavagem. Radicalizando um pouco mais, se fosse com os asnos, comeria capim e relincharia. Graças ao nosso Deus, bom e generoso Pai, Ele ainda não deu condição de porcos cruzarem asnos. Quando isso ocorrer, teremos o porcasno.
Por fim, observo o nada e concluo que estou na escuridão, local onde as pedradas jogadas, se não me enche a moleira e racha o meu crânio em dois, fortalece minha essência.
E respiro: quem sou Eu para julgar o próximo, sem antes julgar-me, mas a miséria não advém da falta de comida; mas da falta de valores, da escassez de empatia, da diminuta solidariedade, da pequenez de espírito, da falta de fraternidade oriunda do inconsciente coletivo.
Eu respirava...; e necessitava respirar mais e mais. Respirar em primeira pessoa, no presente do modo indicativo. Respirar em meio às alamedas salpicadas de pétalas de flores. Sim, Eu preciso respirar. Respirar o vazio, porque o que é cheio para a massa bruta, é indigesto para o meu estômago delgado e vazio. Não possuo tanto ácido para diluir tanta toxina. Contudo, Eu preciso respirar...; para não inspirar a quantidade, sobrepondo a qualidade das fornadas que desovam no Planeta, à todo instante.
Eu preciso, preciso respirar, não para lançar pétalas de flores aos porcos, mas para olhá-las sendo ruminadas por essa espécie; e humildemente, recolhê-las. Em tempo, pétalas de flores não merecem um fim, como o descrito, juro!