A régua do mérito

Em sua obra "A ética protestante e o espírito do Capitalismo", o sociólogo Max Weber expõe sua análise sobre prosperidade econômica em torno do trabalho, o que seria potencializado pelos princípios de uma moral de cunho religioso. De modo análogo, é nítida a visão sobre o trabalho duro, como método de ascensão e libertação, muitas vezes associado ao sucesso sem a consideração de seus fatores secundários, que elucidam o meio através do qual se pôde alcançá-lo. Neste ponto, insere-se o conceito de meritocracia, que pode ser contextualizado na contemporaneidade.

Com o advento do ideal capitalista, surgiu um novo modelo de consumo, produtividade e de vivências interpessoais, sendo o lucro, seu objetivo máximo. Este sistema tornou as desigualdades sociais ainda mais claras e contrastantes, sendo a meritocracia tanto uma resultante quanto uma fomentadora dessas disparidades econômicas e sociais de ordem estrutural. A agilidade e a intensificação dos processos, transformaram elementos primordiais para se avaliar o sucesso em seu sentido mais estrito, em fatores secundários, principalmente quando se trata da etapa estudantil, visto que o sistema atribuiu irrelevância à trajetória do aluno, suas dificuldades, relações familiares e demais aspectos específicos.

O sistema de ensino não é o único que se pauta no mérito individual, as escolas e seus respectivos métodos de ensino se baseiam em cobranças exteriores à escola, que posteriormente exigirão conhecimentos específicos dos alunos, como o ENEM, vestibulares e concursos. Neste ponto verifica-se a importância de propostas que adequem as avaliações que tornam os estudantes aptos a ingressarem em uma universidade, à sua realidade, revisando propostas que tornem o método de avaliação mais abrangente e justo, como a ênfase ao currículo escolar, habilidades comunicativas e artísticas, por exemplo.

Diante das falhas que acompanham o modelo de ensino e avaliação, outro fator significativo se apresenta: a estabilidade emocional e a saúde mental. As exigências, tanto internas quanto externas, pressionam o estudante, desnorteando-o e muitas vezes tornando-se um elemento de bloqueio, sendo imprescindível um suporte mais fundamentado. A educação no Brasil tem como objetivo formar jovens para o mercado de trabalho, mas ela deve primordialmente, buscar a formação humana dos indivíduos, atentando-se para os desafios e realidades sociais, e propondo maneiras inovadoras de inclusão e abrangência, de maneira a compreender os obstáculos como oportunidades para melhorar antigas falhas sociais por meio do sustentáculo social: a educação.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 12/08/2020
Reeditado em 12/08/2020
Código do texto: T7033413
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