Preconceito linguístico

Criado por Maurício de Souza, Chico Bento é um personagem fictício que representa os costumes do interior do Brasil, por meio de seu comportamento e evidentemente, de sua linguagem como marca característica da roça, o que é alvo de uma visão estereotipada e negativa. De modo análogo, a sociedade impõe uma modalidade de prestígio da língua portuguesa, transformando as variadas maneiras de comunicação, motivos de julgamento e depreciação em detrimento de uma forma considerada culta e correta, e contribuindo com o preconceito linguístico.

Apesar do entendimento de que a língua portuguesa não é estática, mas que sofre alterações ao longo do tempo e é empregada de maneiras muito distintas no que se refere ao elemento regionalidade, evoluindo e se adaptando. Conforme dados do IBGE, em 2015 a língua portuguesa do Brasil era falada por um contingente populacional de 200 milhões de pessoas, estatística que demonstra o quão é propício o surgimento de variedades em um mesmo idioma, e principalmente, a origem do juízo de valor em relação ao modo de falar, que conduz ao preconceito referente ao problema da indistinção entre a escrita e a língua falada.

O fenômeno da variação linguística está estreitamente atrelado à condição social, sendo essa, um dos pilares decisivos para que se defina a supremacia de um modo de falar. Tal associação é observada no processo de consolidação da história brasileira, desde o período colonial, no qual firmou-se a modalidade mais valorizada da língua, a partir da visão europeia. Não obstante, as problemáticas estão contextualizadas com o momento contemporâneo, nitidamente verificadas no campo de salários e renda

Diante de uma alarmante situação de não-aceitação do vasto campo de desenvolvimento comunicacional brasileiro, enfatizando as adequações de fala e expressão conforme a realidade social e cultural dos meandros de escrita e fala em um país que assim como sua língua, não pode ser encarado como algo pronto, mas sim como um processo, é fundamental a promoção de políticas públicas por parte de parcerias entre o Ministério da Cultura e da Educação, que possibilitem uma ampliação da visão sobre a pluralidade da linguagem, por meio da adesão por parte das escolas, a projetos de inclusão no componente de língua portuguesa, e da reavaliação do ensino da língua, tendo como foco a norma culta, porém atentando-se às múltiplas formas que a língua assume, minimizando desse modo, os efeitos prejudiciais de um tipo de preconceito presente no cotidiano de muitos brasileiros, visto que a língua é um mecanismo que viabiliza o contato com o mundo.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 29/07/2020
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