NÃO HÁ DILEMA PARA HOMENS AMORAIS
A lógica bolsonarista de suspender o isolamento social para dinamizar a economia sob o argumento de que o sacrifício de alguns (idosos em situação de alta vulnerabilidade econômica e social) para que muitos sobrevivam acomoda-se à dialética dos dilemas morais que vem desafiando diferentes áreas do saber ao longo dos tempos e ocupando espaços na literatura mundial.
Essa lógica que bem espelha a vontade do mercado com inscrição imorredoura na cartilha do neoliberalismo tem origem assentada no pensamento do filósofo inglês John Stuart Mill. Para Mill diante de um dilema de escolha a atitude mais correta a ser assumida é a que resulta na maior felicidade para o máximo de pessoas.
Será bem assim? E se a decisão de escolher entre a filha e a mãe para a sobrevivência política do Bozo em 2022 coubesse a você?
Os que não forem sádicos ou psicopatas não titubearão a dizer “Foda-se, Bozo, eu estou ao lado da vida”. Aos que não reagirem assim indico a leitura do livro A Escolha de Sofia, de William Styron, em cujo enredo uma prisioneira em Auschwitz debate-se em escolher entre o filho e a filha, qual será executado e qual deverá ser poupado. Situação não foge muito da atual, não é? E ai, quem vai para o sacrifício do “bosovirus”? A filha, a mãe ou por que não a vovozinha, velhinha que se tem vontade de jogar pela janela ou isolar para sempre num abrigo de velhos?
O sociopata ao aceitar o desafio "bozoriano" e escolher entre a juventude e a velhice deve ir logo ao final do livro para saber que Sofia que escolheu salvar o menino por ser mais forte e ter mais chances na vida, atormentada com a decisão, acaba se matando anos depois.
Ora, mas Sofia em nenhuma situação apoiaria Bozo, dirão alguns. Outros defenderão que dilemas morais, como a escolha de Sofia, são situações fictícias nas quais nenhuma solução é satisfatória, tratando-se de “encruzilhadas que desafiam todos que tentam criar regras para decidir o que é certo e o que é errado, de juristas a filósofos que estudam a moral.”
A melhor solução, portanto, e sem talvez, é despertar do pesadelo e lutar contra quem tenta impor situações desumanas orientadas pelo mercado em flagrante oposição aos princípios e valores que a sociedade desenvolveu para preservar em cada um de nós a humanidade.