Nudez: publicidade feroz ou crítica contundente?

O corpo humano juntamente com o conjunto de regras que o molda e o dita o que deve ser mostrado e aquilo que deve ser reprimido, sempre teve seus conceitos mutáveis conforme o período histórico e os valores pregados pela sociedade. No período clássico, por exemplo, o corpo era representado de modo simétrico e proporcional, visando a beleza e o equilíbrio. A apresentação do corpo nu com todos os detalhes reforçava a naturalidade do indivíduo e um olhar marcado pela precisão anatômica. Já na idade média, a nudez era encarada como um pecado e um símbolo de devassidão e vergonha. No mundo contemporâneo, porém, existe um culto à nudez recatada e uma espécie de parâmetro, assim como um limite tênue entre a nudez natural e a exagerada.

Museus e exposições artísticas costumam trazer à tona o corpo nu como base de reflexão, nestes casos, o objeto é encarado como expressão natural e apropriada para o contexto e o lugar, mas se tratando de um outdoor chamativo por enfatizar a nudez, em uma avenida de fluxos intensos, a indignação de muitos indivíduos é o que persiste. Uma das prerrogativas é o público infantil, o que faz com que a publicidade seja vista como um gatilho para a erotização e adultização de menores. Pesquisas evidenciam ainda que a nudez do corpo e sua acepção como crítica social em um ambiente público ou como uma barbaridade anti-civilizacional, estão relacionadas à opinião política e à pendência liberal ou conservadora.

A sociedade a qual pertencemos, pode ser cada vez mais definida por um conjunto de indivíduos incapazes de se espelharem um no outro, além disso, é marcante a repressão do corpo e a falta de conhecimento sobre o mesmo. Em muitas esferas alienadas, podemos perceber a indiferença com a educação sexual. Enxergar a nudez como forma de crítica contundente é uma tarefa restrita àqueles que a compreendem à partir de um viés histórico, entretanto, ainda é consideravelmente maior a quantidade de indivíduos que encara a nudez como sinônimo de pornografia. A principal diferença entre elas, é que a primeira preserva a forma mais pura, genuína e natural do ser humano, enquanto que a segunda é um entretenimento pejorativo alimentado por uma indústria que incita a formação de uma humanidade cada vez mais machista.

Criticar corpos seguindo os padrões de beleza impostos tem efeitos semelhantes ao julgamento de corpos nus. Essa visão embasada em preceitos culturais que sustentam a opinião de que a nudez explícita deve se restringir a determinada hora e local, contribui para a mistificação do assunto e à criação de um tabu. Solução: olhar natural.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 08/03/2020
Reeditado em 30/10/2021
Código do texto: T6883133
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