Os Guardiões
O Gato, o Rato e o Cão dormem enroscados um no outro, feito serpente em galho de árvore. E toda vez que o rsivoso Cão late, ferozmente, espantando as ferroadas das pulgas, o Gato desperta. Sacode a cabeça, limpa a areia dos olhos e salto no ar. Exímio malabarista, sempre cai em pé; ou melhor: cravando as unhas no chão, sobre as quatras patas.
Por sua vez, passado certo tempo, o bigodudo Gato mia alto, sabe-se lá o porquê. De modo que entre latidos e miados, os fiéis e inseparáveis amigos revezam na guarda do palácio do patrão.
Já o Rato...; bem, sentindo seu modo operandi de vida inútil, supérfluo e inócuo, o desolado Rato está emoldurado por pelo e ossos; afinal, as porta da despensa está trancafiada com grossas aldrabas. Faz muito, mas muito tempo que não é aberta. Imagina-se que tudo que há lá dentro, inclusive os queijos importados, estejam mofos, fedidos, podres, asquerosos. O Cão e o Gato evitam o máximo que podem, passar perto. Sentem náuseas.
Vez por outra, o Rato recebe uma cusparada na cara dos Guardiões, que às furtivas, comentam entre eles que quem nada tem para oferecer, nada vale.
A miséria do Rato é tão grande, que até as serpentes peçonhetas que transitam por lá, dispensa-o. Chamado para observar o fenômeno, o alemão mestre em biologia, constatou que elas (as serpentes) não degustam caricaturas de ratos.