MENINO DE RUA

Dos muitos lugares nós quais eu passei

Trago muitas lembranças do que contemplei

Mas de todas as lembranças que trago deste chão

Tem uma que ao falar parte o meu coração

Essa tal lembrança que meu faz chorar

É de uma criança que não tinha onde morar...

De manhã bem cedinho, ainda às escuras

Deixava a calçada e ia a procura

De alguma coisa pra se alimentar

Ou mesmo de abrigo

Porque não tinha um lar.

Ficava em um sinal no centro da cidade

Ao sol causticante, ouvindo as maldades

De alguns que passavam

Pois em seu caminho não haviam rosas

Só tinha espinhos...

Toda vez que eu ali passava

Ficava a observar sua tremula voz a implorar

Dai-me um trocado senhor... Estou com fome

Me ajude, por favor!

Uns balançando a cabeça fazia sinal de não

Outros levantavam os vidros de seu carro

E ia em outra direção

Mas, tinha alguns que o ouvia, sua voz lhes comovia

Esses lhe dava um tostão

Pés descalço, maltrapilho lata de cola na mão

Por ninguém era querido ninguém lhe estendia a mão

Não sei se tinha família, só via ele sozinho

Só sei que era uma criança precisando de carinho

Porque na sua pobreza só conhecia o amargor

De não ter nada na vida, não saber o que é o amor...

Certo dia o vi chorando num cantinho deprimido

E um rapaz a dizer sorrindo que alguém tinha lhe batido

Tinha tanta gente perto mas ninguém o defendeu

Entre os que estavam perto, lá também estava eu

Coitado, não houve ninguém que o ajudasse

Ou ao menos alguém

Que uma palavra de carinho lhe falasse...

Na outra semana passei no lugar

Onde o via sempre, a esmolar!

Espraiei meu olhar para ver se encontrava aquele pobre ser

Mas não o avistava...

Semanas depois não o encontrando

Procurei saber o que estava se passando

Se ele havia encontrado a sua família

Ou se havia seguido uma outra trilha

Um abrigo...

Quem sabe uma casa de recuperação?

Talvez alguém de bem tenha lhe estendido a mão!

Foi grande a minha surpresa quando soube o que se passou

Um oceano de máguas meu coração inundou...

É que aquele garoto

Tão carente

Tão sofrido, foi encontrado na rua

Seu corpinho estendido, se esvaindo em sangue

Coberto pela poeira

Prendendo ao coração, numa ânsia derradeira

Uma mochila cinzenta com dois pedaços de pão

Que alguém tinha lhe dado, alguém de bom coração.

E ali mesmo morreu vítima de atropelamento

Trazendo a realidade de um trânsito violento

Hoje quando vou passando no lugar que ele ficava

Ainda me ferem as lembranças de tudo o que ele passava

Mas o que mas me comove e fere o meu coração

É que eu sequer tive coragem de lhe estender minha mão

De lhe falar do amor verdadeiro de Jesus

Que sem fazer acepção

Por todos morreu na cruz!!!

João antonio
Enviado por João antonio em 24/09/2019
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