Amanhã serei a mesma? (*)

E eis que a vida passa tão rapidamente. Me pergunto (e entendo quando muitas vezes ouvi das pessoas a mesma frase feita) : quando foi que eu cresci? Quando passei a pertencer à vida adulta? EU NEM QUERIA ISSO!

As coisas aconteceram. Como canta Ana Carolina (ahhh, ela sempre canta o que sente minha alma! - mesmo quando apenas sussurra): " - simplesmente aconteceu, não tem mais você e eu..." . E sem você eu perdi meu rumo, meu porto, minha possibilidade de errar e ter consolo! A vida ali surgiu, aliás; a vida ali sem impôs!

E eu descobri que em qualquer idade, sempre precisamos de colo de mãe. E eu descobri também que nenhum filho deveria em sã consciência responder, questionar, duvidar ou qualquer coisa que seja, com as suas mães.

Mãe sabe o que diz, mãe sente, pressente, adivinha, induz, conduz! Mãe sofre... mãe tem o coração fora do peito: nunca mais dorme na vida!

Aliás , eu ainda não descobri se existe vida própria depois da maternidade. Se eu ainda terei a audácia de comer um bombom sem ter peso na consciência e levar pelo menos mais dois pra casa (pra compensar eu ter comido UM sem ter pensado quase que instantaneamente no meu menino - que mal gosta de chocolate).

Me vejo com trinta anos. Tenho trinta, quase trinta e um...

Olho pro espelho e sinceramente: não tenho trinta! Aliás, esse ano farei trinta pela segunda vez. A verdade é que me arrependi de não ter feito vinte e sete umas três vezes... compensarei isso agora!

...

Sim, eu tenho medo de envelhecer e não: não tenho medo de confessar! Eu luto contra as marcas do tempo que em mim insistem em surgir. Quanto à minha alma, essa aí não tem mais solução... Sofrimento demais, pra vida de menos!

O passar dos anos me assusta, muito! Com trinta eu já vivi mais (bem mais) da metade da vida da minha mãe e por mais que eu não queira, não tenho como não pensar nisso. Bruscamente, eu mudo a direção do meu pensamento. As coisas acontecem... tanto pra vida... quanto pra morte. Por enquanto: eis-me aqui!

E eu penso em amores vividos e não vividos. Nas minhas escolhas e em minhas fatalidades. O que eu quis, o que a vida me impôs. O que o destino me reserva: e o que eu pretendo (e vou) fazer com ele. O que restou dele! O que restou de mim. Pedaços embalsamados em tanto sofrimento.

Encarar a morte tão de perto. Escolher, optar por deixar a pessoa que se ama partir... me mudou pra sempre. Esperar a partida, dia após dia... pedir à Deus o improvável... ter que aceitar a Sua vontade...chorar por dentro... ser forte por fora.

Não tenho mais brilho em meu olhar... não tenho mais a inocência de crer sempre em finais felizes. Tantas vezes não me reconheço. E tantas outras me vejo perdida em mim. Uma menina que não me cabe mais: a vida exige muito além do que um olhar crédulo!

E Deus, brincando com seus fantoches... doces brinquedos, que da maneira Dele... Ele cuida com zelo: me fez mãe!

Perdida, sozinha nesse mundo, sendo a base (toda desestruturada) de uma família composta por apenas homens, sem ao menos estar namorando, sem emprego, sem rumo, sem nada!!! MÃE... Deus me fez mãe.

E então descobri que ainda dava pra sorrir (mesmo que fosse em meio às lágrimas). Existiam motivos pra seguir em frente. E hoje, sempre haverá.

Deus tirou de mim a base que eu possuía... e de repente me roubara a vida também. Que mãe não vive pelo seu filho.

E eu pude finalmente compreender que eu era mais forte do que jamais pensei. Aceitei que eu não poderia ter ido no lugar dela. Descobri que toda uma família se faz ao redor de uma figura materna e quando ela se perde, quase tudo se desmorona.

Aprendi que são muitos homens na minha vida: isso dá trabalho. Vi que não é vergonha pedir arrego pra eles, me deixar ser carregada. E que não preciso ser apenas um pouco de esposa pro meu pai... mãe pro meu irmão. Posso ser apenas filha também (num nível seguro - o porto deles, principalmente do meu irmão: sou eu).

Meus sonhos ficaram sim... ficaram pelo caminho. Eu choro por cada um deles. Aprendi a recomeçar da forma que é necessária. Reconstruo meu mundo a partir dos meus próprios fragmentos.

...

E me sinto completa quando vejo aquele serzinho completamente arteiro, matraqueador e com as canelas mais roxas que uma berinjela, dormindo sem preocupação: porque a única obrigação dele é ser feliz! A minha obrigação é mantê-lo feliz... tanto quanto me seja possível!

Quando me deito sinto um vazio enorme por saber que não tenho mais quem me vele dormir! Apenas em sonhos eu me entrego. Apenas em pensamentos eu ouço conselhos.

Aprendi o que é intuição de mãe... descobri o sexto, o sétimo, o oitavo sentido! Já sei fazer chantagem emocional como uma mãe de quatro filhos e de meia idade. Fico feliz por ter um beijo mágico que cura desde ralados de bicicleta até uma unha arrancada na porta!

E tem alguém que realmente gosta da minha comida!

Isso realmente me surpreende!

E de surpresas e sustos minha vida segue...

A cada amanhecer um "bom dia, mamãe" me renova as forças!

E apesar de tudo: com ele, eu vivo imensamente feliz! Por isso ele faz jus ao nome que carrega: ele veio pra me acrescentar... acrescentar felicidade, alegria, esperança... paz de espírito! Me devolver a fé na vida.

Simplesmente meu pequeno José!