Depoimento confidencial (*)
Na década de quarenta, eu era mocinha e quando o clarim tocava para a saída do quartel, eu ficava no portão para ver os soldados passarem. Alguns mexiam comigo, diziam que eu era uma graça.
Um dia, um soldado parou e veio conversar comigo. Eu senti um calorão no rosto e corri para dentro. Fiquei espiando na janela. Não dormi naquela noite. Então, eu não ia mais para o portão, só ficava espiando por uma fresta da janela. Ele sabia que eu estava atrás da janela. Abanava e ia embora. Eu sentia o coração bater dentro dos ouvidos. Tempos depois, ele deixou um bilhetinho pendurado na cerca. O primeiro de muitos. Ele foi minha primeira e única paixão.
Certa vez, criei coragem e fui até o portão. De perto, meu amado era ainda mais bonito. Era o mais lindo soldado dos quartéis do Vale dos Sinos. E era o mais corajoso, pois ele me disse: “Vou falar com teu pai e te pedir em namoro”. E foi. E pediu. E meu pai consentiu. No começo minha mãe sentava na sala e ficava ouvindo nossas conversas. Um dia, na saída, ele me roubou um beijo. Não dormi de novo.
Visita dele, só aos domingos. Mais nada.
Veio então a Guerra Mundial. Quando ele foi para a guerra, chorei dias e noites.
Naquela época, eu tinha uma prima muito sapeca que me contava seus sonhos eróticos. Depois que perdeu o namorado “deu na vida”. Diziam que ela entrava no quartel, na calada da noite e dormia com as sentinelas. Por isto, foi apelidada Maria-Batalhão. Mas, deixa isso pra lá. Prefiro contar sobre os desfiles. Vi muito desfile militar. Como eram bonitos antigamente. Na frente, iam militares montados a cavalo, depois vinham carroças, canhões e burricos carregando armas. O povo inteiro ia para a avenida assistir. Era lindo! Era dia de festa.
Ah, Quanta saudade!
O meu amado?... Quase dois anos depois, ele voltou e foi promovido. Nós nos casamos e vivemos felizes por muitos anos.
(*) História contada por uma velha amiga