NA BALANÇA
(para refletir)
 
 
 
Certa vez resolvi medir e pesar a minha consciência e os meus atos até aquele momento para saber como estava quanto à prática do bem.
No prato onde eu colocava os meus atos bons durante a vida já não cabia mais nada. Estava repleto de bom dia, boa tarde, boa noite, obrigado, amei você, te amo, obrigado papai, obrigado mamãe, vocês são lindos meus filhos. Também tinha muitas doações e dízimos que fiz às igrejas; muitas esmolas que dei pelas ruas E enfim, uma infinidade de benevolências.
Ao contrário, no prato onde deveriam estar as minhas má ações quase não se via nada. Tinha uns palavrões que soltei nos momentos de aborrecimentos; uns xingamentos a alguns amigos; uma briguinha aqui e outra ali, nada sério. Duas separações de casamentos maus resolvidos, De longe nem chegava perto do meu prato de bondades.
Sorridente imaginei que na hora da pesagem o prato de maldade nem ia se mexer. Realmente foi o que aconteceu.
Tudo pronto. Comecei acionar a regulagem da balança.
Qual não foi a minha surpresa. O prato onde estavam as minhas bondades ficou o tempo todo suspenso no ar. Não abaixou de jeito nenhum. O prato das maldades estava firme no chão. Desesperei-me. Daí garrei a blasfemar e resmungar que Deus estava sendo muito injusto comigo.
À noite não consegui dormir. Quando estava quase pegando no sono me vinha à imagem daquela maldita balança. Até que repentinamente passou por mim uma brisa suave com uma nuvem que me entorpeceu e eu acordei num lugar descampado onde um ancião com mais ou menos uns cem anos de idade me falou:
          - Meu filho. Deixe aquela balança, naquele prato onde estava todo mal que você praticou do jeito que está e no outro prato suba nele por completo.
E então eu fiz o que o ancião me falou. Mas nada mudou. Eu fiquei mais furioso ainda. O velhinho sorrindo me consolou.
          - Tenha paciência amigo. Se você observar bem verá que o seu prato de maldades está batendo no teto. Você é que não viu e não vê e muito menos percebe os males que comete diariamente desde que nasceu. Você nunca deu uma esmola como o coração. Você jogou as moedas nos chapéus ou nas mãos dos pedintes. Quantas vezes você deu um prato de comida a um faminto sem reclamar? Você nunca fez uma doação de algo seu. Doou sempre o seu supérfluo mas sempre visando retribuição. Você só pagava e paga o dízimo nas igrejas por conveniência social. Quantas vezes você foi visitar um enfermo no hospital, levar um doce, uma guloseima para uma criança pobre na favela com o seu coração aberto e feliz pelo prazer de ser útil?
Volte para o seu sono e amanhã recomece tudo novamente, procurando ser honesto consigo e com os seus irmãos, parentes, amigos e entes queridos.
Com essas palavras o bom velhinho desapareceu e eu consegui enfim dormir como nunca.
Desde aquele dia comecei rezar e me vigiar, pedindo a Deus que permitisse o meu discernimento do bem e do mal de tal forma que quando eu ajudasse alguém o fizesse com o meu coração. Agora, a lembrança daquele ancião me é muito agradável. Vez ou outra ele vem conversar comigo.
O que é mais importante. Desfiz-me da balança após um último uso, isto há uns dez anos atrás. Proporcionalmente melhorou bastante, pois desta feita o meu lado do bem conseguiu abaixar um pouco. Claro, não equilibrou até ficar no mesmo nível porém houve sim um pequeno avanço na minha aprendizagem.
Fiquei feliz, por isso sem a balança deixarei para o Pai Criador a última pesagem e análise quando chegar o momento.