COMO SERÁ A FELICIDADE?
 
                   
                    Num vilarejo encravado num vale cercado por uma cadeia de montanhas, onde alguns eremitas, sábios e pensadores se refugiavam para suas meditações, um cidadão sertanista não se conformava com o curso da sua vida.
                    Não era rico, porem possuía bens materiais suficientes para sua manutenção e subsistência. Materialmente nada lhe faltava.
                    No entanto o seu inconformismo era visível, muito fácil de perceber, uma vez que em toda e qualquer oportunidade que surgia ele fazia as mesmas perguntas quanto ao por que da vida e as probabilidades de ser feliz ou não.
                    Estando em um bosque mentalmente  indagou dos pássaros o porquê de estar só. E os periquitos, sanhaços, sabiás e corruíras como se tivessem entendido a indagação entoaram um coro deixando no ar a sensação de estarem cantando “só fica só quem gosta de estar só”.
                    Certo dia caminhando pelos campos resolveu entrar numa ermida. Indo até o ermitão perguntou o que significa felicidade, tendo por resposta que este estado de espírito está dentro ou fora da gente e que depende de como queremos que a felicidade seja. Material ou espiritual.
                    Reforçou dizendo que uns procuram a felicidade nas compras de mansões, automóveis, jóias e pedras preciosas; outros fazendo passeios de navios, iates, boings de última geração por toda parte do mundo, etc. E existem os que são felizes com o que tem e onde estão. Gostam das pessoas que o cercam. Amam a terra e o chão onde pisam.
                    La se foi o nosso inconformado com suas indagações caminhando novamente, agora em direção às montanhas.
                    Encontrando um sábio que estudava tranqüilo num pergaminho sob a sombra de uma grande árvore parou e ficou observando por longo tempo cada gesto daquele ser solitário.
                    Saiu dar uma caminhada ao redor e bem mais tarde voltou ao local deparando com o mesmo senhor exatamente na mesma posição inicial. O dia terminava e o sol se punha lentamente.
                    Não resistindo aproximou-se daquele homem de aparência dura, barbas longas de muitos anos sem aparas, rosto bronzeado, pés e mãos calejados, porém com muita altivez, e foi logo perguntando antes mesmo de cumprimentá-lo:
          - O senhor é feliz vivendo assim nessa solidão?
                    O velho sábio com voz grossa e bem postada, sem pigarrear respondeu:
          - Eu ainda não sei o que significa felicidade. Vivo só, tanto quanto você. A diferença é que aqui estou mais isolado da civilização e você está cercado de pessoas de vários universos de pensamentos.
          - A única coisa que eu posso garantir é que não tendo nada para dar, não tenho nada pra receber. Não posso reclamar de nada por que se eu estou só é uma opção minha. Escolhi viver assim.
          - Tem um pequeno problema nisso. Pode ser que no futuro eu sofra as conseqüências e seja castigado pelo Criador por escolher a vida egoística do isolamento.
                    Não sou um sábio, mas tão somente um estudioso. Os sábios vivem em comunidade e dividem as suas experiências e aprendizados com outros.
          - Se a felicidade é isso eu sou feliz. Só não sei até quando. O meu estado de espírito é que em determinado momento vai decidir se sou feliz ou não.
                    Sabem caros amigos e leitores o que eu pude deduzir dessa narrativa?
                    Deduzi que a resposta certa foi o canto dos pássaros. Sábios e conselheiros não falam tanto. Não ficam tagarelando. Respondem secamente e na maioria das vezes devolvendo a pergunta.