ENEM, SISU e o Sistema de Cotas

Enem deste ano tem recorde de inscritos: mais de 7 milhões. E a maioria das pessoas inscritas é isenta do pagamento da inscrição, que é da ordem de 5 milhões de pessoas. A característica média do inscrito é a seguinte:

-Mulher;

-Terminando ou com ensino médio terminado recentemente;

-Parda.

Parda. É, meus amigos, a tão discutida problemática do ENEM volta à tona. A quantidade de cotistas participando da prova é muito maior do que a quantidade de alunos provenientes, em tese, de escolas particulares. Não discutirei nesse texto sobre o sistema de cotas ser bom ou não, discutirei sobre o seu real funcionamento.

Esses dados nos permitem tirar algumas conclusões. A primeira é a de que, efetivamente, o Brasil está avançando em educação com o recorde de inscritos, todos supostamente já em vias de terminar o ensino médio. Para um país que tinha um grande porcentual de analfabetos até 20 anos atrás, isso está excelente.

A segunda conclusão é que a mulher está cada vez mais participante na sociedade. Feministas, me perdoem, mas o público feminino fora desprezado até 1950, quando a industrialização efetivamente começou no Brasil, fazendo as taxas de mortalidade caírem e as de natalidade crescerem, junto com a, - apesar de lenta - revolução sanitária e social que vem ocorrendo na nossa nação. As mulheres estão buscando, desde então, ocupar maiores parcelas da PEA (população economicamente ativa), que hoje é da ordem de 90 milhões de brasileiros, sendo que 45% desse número é composto por vocês. Sobretudo, as mulheres têm, também, buscado cada vez mais qualificação, a exemplo dos cursinhos: de cada dez estudantes, quatro são homens.

A terceira e última constatação é a falha na hora do reconhecimento do cotista. Branco que fez escola pública não pode concorrer; negros, pardos e indígenas que fizeram escola particular também não podem. Pode apenas, efetivamente, tentar a cota os negros, pardos e indígenas do sistema público de educação. Aí você pensa:

-Mas o nosso grandíssimo e lindíssimo Brasil é um país cujo povo é mestiço, e agora?

Pois é, meus amigos pais, educadores e estudantes. O Brasil é um país que tem mais da metade de sua população mestiça, que inclui qualquer mistura entre etnias (brancos e negros, pardos e pardos, brancos e indígenas, etc) sendo que a esmagadora maioria dessa parcela concentra-se no nordeste e no norte, justamente onde a educação é mais atrasada e falha. No centro-sul, onde concentra-se a maior parcela branca e as melhores escolas, essa população mestiça é relativamente baixa.

O boom das cotas deste ano é o que assolará o SISU. As más línguas, por sua vez, afirmarão ser má fé dos candidatos: teremos pessoas de grupos privilegiados se declarando cotistas para tentarem uma vaga mais fácil. Entretanto, há de se lembrar, mais uma vez, que o Brasil, bem como os EUA, o Canadá, e a maioria dos países americanos, tem um povo completamente miscigenado. Essa seleção de cotas é falha e no final do ano, teremos problemas - não me assustaria se a nota de corte das cotas para determinado curso fosse maior que a nota para não cotistas.

Alberto Fitzgerald
Enviado por Alberto Fitzgerald em 08/06/2013
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