A HORA. ORA!
A HORA. ORA! 111.998
Palavras servem para dizer que aquela coisa não é uma coisa e, sim, é outra coisa.
Não entendeu? Então, veja um cilindro com uma base oca e com a outra base maciça, esta contendo um furo.
Uns pensaram num vaso, outros num copo que precisa de uma rolha para tampar o furo.
E se pelo furo for atravessada a parte rosqueada de um filtro, ficando esta presa do outro lado por uma porca plástica? É a parte superior de um pote, uma talha.
Se fosse escrito que era um copo com um furo, um vaso ou uma parte de um pote, decerto esses objetos teriam sido enxergados.
Os tamanhos seriam variados: copázio, copo, copinho, vasão, vaso, vasinho, potão, pote, potinho...
Mas, feitos de quê? Barro, vidro, plástico, alumínio, aço inoxidável?
Bem, não importa porque é um copo (sem o furo, obviamente!) de vidro onde se costuma beber uma cerveja no bar do Talinhos, ali pelas 18 horas, depois de estafantes jornadas de trabalho, quer tenham sido na Marcenaria do Karaca, no Posto do Dumbinho, ou na reforma da casa do Nondas...
Ao voltar para casa, a esposa do marceneiro perguntará:
-Tomou as suas hoje, onde? No Bar da Otília, no Bar do Restaurante Chit Chit, no Prada, no Palombo? Comeu o quê? Amendoim japonês, salame picado, mussarela fatiada?
-Não, tomei duas, lá no Talinhos e hoje eu comi um cabo de martelo!
-Ficou doido? Cabo de martelo?
-Não, não é nada disso que 'cê tá´pensando! Cabo de martelo é só uma salsicha comprida!
-Quem estava lá?
-O pessoal todo. Não faltou ninguém!
-Diga-me: sobre o que vocês conversam?
-Bom, a primeira coisa é sobre futebol. Você não viu a carreata dos Santistas, hoje?
-Vi! A DOBRADO FM anunciou várias vezes, a tarde inteira. Até tinha um cartaz na Padaria Inglesa...
-Então, depois da carreata, o primeiro santista que chegou lá no Bar, lembra do Fagner Toschini?, disse, todo feliz, que havia 180 carros, o segundo, 157 e o terceiro santista, 108!
-Ninguém fala a mesma língua! Cada um conta a estória que quer?
-É isso aí, mulher. Mentira tem qualquer tamanho. Eu contei quarenta carros quando a carreata passou em frente a Marcenaria!
-Caramba, 180, 157, 108, 40? Quantos carros, para falar a verdade?
-Depende de quem olha! Sendo eu Corinthiano, você acha que vou contar todos? Os que vi, contei...
-Bem, voltando à "vaca fria", você trouxe as verduras que pedi?
-De que jeito? O Tuca tinha fechado o Varejão para ir à carreata...
A conversa entre o casal prossegue, enquanto parte do pessoal continua lá no Bar do Talinhos, tomando, "beliscando", conversando...
Veja que interessante: em Dourado, o pessoal, depois do trabalho, com justiça, busca meia hora, uma hora, que seja, para estar com os amigos em algum Barzinho, saboreando bebidas, salgadinhos, "martelos", jogando conversas inconsequentes, tudo isto para obter um "refresco".
Se esta mesma atitude acontecer em São Paulo, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, o funcionário da multinacional estará desfrutando da "Happy Hour", bem ali no "Point X".
Boteguim, Bar, Boteco viram "Point" (tradução: Ponto). Uma hora de trégua vira "Happy Hour" (em tradução ao pé-da-letra: Hora Feliz).
Estas são palavras de outra língua, são expressões da moda que vivem a "enfeitar o pavão" neste Brasil globalizado.
Mas, esteja certo, neste caso do Point e da Happy Hour as verduras não virão!
Ali perto, o estoque de verduras do Hipermercado esgotou-se. E nas Mercearias próximas (se houver!) só há leite e pão para vender: verduras também acabam lá por volta de meio-dia!
Tito Vernaglia aos oito dias do mês de dezembro de 2012. (081.212)