A HEBE DO MEU PONTO DE VISTA.
Não sei ao certo quantos anos já se passaram.
Sei que ela era minha vizinha.
Na Rua Pio XI, no alto da Lapa, em São Paulo.
Eu devia ter uns 8 ou 10 anos.
Ela, não sei bem, porque eu era um guri
que brincava nas ruas, descalço, de estilingue
em punho e muita estória pra não contar.
Sei que colecionava selos. E tive muitos, graças
à Hebe.
Ela recebia milhares de cartas e as descartava
todas. Não respondia aos seus fãs, que também
eram aos milhares. E eu surrupiava os selos.
Não lia nada, porque não era do meu feitio
abalroar correspondência de ninguém.
O tempo passou...
Deixei minha coleção de selos de lado.
Hoje a Hebe morreu.
Seus selinhos morreram.
Morre minha coleção de selos, também.
Morre um pouco da história da artista.
Todos vamos morrer.
Artistas, com selos ou não.
Ou será que somos imortais enquanto duramos?