“O HOMEM MEDIEVAL” – Jacques Le Goff

Universidade Federal da Paraíba

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas

Professora: Beliza Áurea

Disciplina: Literatura Portuguesa I

Aluno: Wilder Kleber Fernandes de Santana

Dissertação do texto N1B “O HOMEM MEDIEVAL” – Jacques Le Goff

Vários perfis escritos de homens medievalistas da atualidade mostram o homem medieval – sendo mais que uma abstração. Lucien Febvre diz “o homem é a medida da história, sua única medida”. É necessário que se mostrem as funções humanas, necessidades e seu modo de vida. Aquilo que é essencial, ou seja, seus traços sociais diante do que é concreto, esses devem ser preservados, independente da época. O que caracteriza o homem, seus princípios, costumes e identidade.

Nos estudos acerca da época medieval, aqui tratada, é vista a sociedade do ocidente Cristão, como foi sua representação diante de momentos como: na primeira fase, entre o ano mil e o século XII – evolução prodigiosa da cristandade; na segunda estação ‘instantes conturbadores’, a baixa idade média (em que giram vertiginosamente um mundo do passado em crise); e o mundo de uma nova idade média (o renascimento em suas crenças e práticas.

Os homens da idade média se conscientizaram de que existia uma peça particular nesse cenário: o monge. Daí vem a constante indagação: o homem ou os homens? Segundo Jacques Rossiaud, o mesmo diz, indiretamente, que “não há diferença entre um mendigo e um burguês, entre um cônego e uma prostituta... O homem da cidade só existe porque se contrapõe ao camponês, seu duplo”, pois nesse caso todos estão em mesmo plano. A mulher, por outro lado, sempre foi considerada um ser falso e tentador, que tiraria o homem da pureza da cristandade, no controlo da sexualidade.

Ora, os homens da idade média tinham total convicção de que imperava um modelo a ser seguido: o modelo cristão, como forma de imposição religiosa. Em uma época em que a Igreja Católica dominava e obrigava todos a seguirem o panorama de vida sacro (até o século XIII pouquíssimas pessoas eram não-cristãs) era o “homem de Deus” que se sobressaía diante dos “outros”. Para a antropologia medieval o homem é a criatura de Deus. Porém, diante do Divino, o homem é fraco e vicioso. É, então, subordinado ao que a Bíblia, sob a interpretação clerical, determina, como a exemplo do livro de Jó. A partir do século XIII Jó deixa de ser o símbolo de sofrimento. Nesse momento é Jesus, representando paixão, crucificação e piedade, na imagem de uma coroa de espinhos sobre sua cabeça.

A antropologia cristã medieval nos remete a duas concepções do homem: a primeira é a do homo viator, o homem que viaja, o monge, que tem sua vocação e seu caminho pronto a seguir. A outra a do homem que procura na penitência, mesmo não sendo monge, os meios para adquirir a sua salvação. E cada sensação do corpo seria um plano, remetendo-o à alma (dualidade corpus/anima).

Então, pela constituição física, pelo organismo corpóreo sob o qual o homem está condicionado, o mesmo torna-se ponto de referência simbólico.

Segundo o humanista Chartres, João de Salisbúria, o corpo humano passa a ser a imagem metafórica da sociedade, uma sociedade em que o rei, ou o papa, é a cabeça, e os artífices e os camponeses são os pés.

Enfim, todas essas concepções medievais de homem manifestam-se em ponto de convergência. Sabe-se, apenas que o controle era religioso, e que as torturas eram concretas, sob jugo católico. Caracteriza-se, então, a sociedade medieval, como uma associação de oposições. Fundamentos em que a terra, a sublimidade do que é sentido na matéria transcende ao espiritual. Os mosteiros, locais de habitações dos monges, inicialmente foram tidos como uma ilha, separada. Depois é que passou a ser considerada uma cidade santa.

Porém, é a partir do século XIII, época do apogeu do progresso ocidental, que a urbe passa a ser o centro do desenvolvimento. Na cidade, o dinheiro é rei, e a mentalidade dominante é a mentalidade mercantil. O alvo é o lucro e os casos de consciência multiplicam-se. O citadino, imigrante recente, faz parte das moradias. Porém, entre ele e o clérigo existe uma grande ponte de permissões. Surgem novas escolas, universidades, acesso aos hospitais, e o homem acesso aos livros.

À margem das categorias medievais existia a mulher (que não tinha qualquer lugar, sendo submissa ao homem, sem voz), o artista (que vive entre o desprezo da sociedade em relação a uma personagem unida aos trabalhadores manuais e o seu desejo de afirmar o orgulho, sua glória e suas obras) e o marginal, que em extremo se opunha ao santo. Marginal tal que vive à margem das determinações. Então, por esse motivo, foram excluídos, colocados à margem real da sociedade.

Alguns temas importantes a serem retomados, sob os quais havia dependência por parte da sociedade medieval ocidental, são a respeito das suas obsessões, vícios, processo de ascensão, crenças, determinações, diferenças sociais e o simbolismo. Tanto as cores como os sonhos tem seu fundamento. É importante ressaltar que na época anterior ao século XIII, a grande maioria era analfabeta, e por esse motivo a palavra orada, ou proferida tinha tamanha significação, e assim ainda é aos tempos de hoje (a diferença é que hoje o analfabetismo é menor).

O papel do homem medieval era permanecer onde Deus o tinha colocado. Tinha de haver respeito, porém, respeito ao que era “entendido” pelas autoridades religiosas. De maneira geral houve multiplicidade de gostos, porém, nem todos eles puderam ser experimentados.

WILDER F. SANTANA

(wilder.santana@hotmail.com)

Wilder F Santana
Enviado por Wilder F Santana em 23/09/2011
Código do texto: T3237500
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