a locomoção da sociedade em vias púdicas

O ônibus engarrafado sobe e desce o viaduto vagarosamente, e faz-me lembrar da roda gigante do parque de diversões da minha cidade, do meu interior…Eu criança sorria e olhava o parque todo lá de cima, não que a roda-gigante fosse alta, o parque de diversões da minha cidade é que não era grande…Eu criança balançava na roda-gigante sem medo de que as ferrugens do brinquedo finalmente cedessem, e agora adulta encolho-me diante de dezenas de pessoas que sobem e descem no ônibus enferrujado…Mal a lotação desconfia, mas a ferrugem do nosso grande brinquedo, a engrenagem que se mantinha sólida, já rompeu faz tempo. O que ocorre é que não aceitamos o rompimento da ferrugem e ficamos todos unidos, subindo e descendo vagarosamente o viaduto. Temos a crença inconsciente de que se fingirmos que está tudo bem, aí sim, estará tudo bem…Pelo menos, quando a seca visitava meu interior, era assim. E seguimos encolhidos arrastando uns aos outros calmamente, subindo e descendo o viaduto vagarosamente.