LETRAS ÍGNEAS (EDITORIAL)

LETRAS ÍGNEAS.

Ao longo dos séculos o homem erigiu um patrimônio cultural que, se fosse utilizado para regar a árvore da sabedoria, baniria para sempre as trevas que testemunhamos diariamente nos meios de comunicação e até mesmo na porta de nossas casas. O saber que no seu estado puro é democrático e construtivo torna-se instrumento de manipulação e cerceamento do livre pensar nas mãos dos censores do mundo hodierno. Aqueles que na História da Humanidade detiveram o poder, empregaram esforços supremos a fim de impedir as classes menos favorecidas de terem acesso ao conhecimento libertador e nas raras vezes em que seus esforços não lograram êxito, o saber chegou pulverizado, contemplando apenas os homens extraordinários que viveram e vivem entre nós.

A Biblioteca de Alexandria chegou a possuir cerca de setecentas mil obras, mas sucessivos incêndios intencionais e apreensões acabaram por destruir um acervo de valor inestimável para a humanidade. Tratados de alquimia que supostamente elucidavam o segredo da fabricação do ouro e da prata foram destruídos pelo Imperador Romano Diocleciano, pois ele temia a formação de um exército inimigo ao Império, caso os egípcios dominassem o fabrico dos respectivos metais. Fanáticos cristãos queimaram milhares de livros que consideravam satânicos, como tratados de astronomia e filosofia. Hitler queimou livros os quais chamava de “ciência judia”. O Islã destruiu obras importantíssimas sobre o zoroastrismo na Pérsia e os cátaros foram trucidados por sua leitura independente das Sagradas Escrituras.

Hoje os mecanismos usados para restringir o acesso à informação são mais sutis, não obstante de maior eficiência. A informação pronta, digerida e dirigida gerou milhões de autômatos de carne e osso; pessoas programadas com objetivos padronizados por classe social; subordinadas aos interesses não mais de reis, imperadores ou líderes religiosos, mas das corporações, escondidas sob a égide de se construir um mundo melhor. Um lado deveras perverso de tal subordinação é o que eu chamo de “Ignorância Feliz”. Qual seria a melhor maneira de se manter um escravo contente e satisfeito? A resposta é bem simples: Nunca permita a ele perceber sua condição escrava. Dê-lhe comida, água e um pouco de divertimento inocente; recheie sua cabeça com conceitos estáticos de monoteísmo e pronto, temos o Homo Sapiens Sapiens, o ser objeto desse editorial.

A proposta do Jornal LETRAS ÍGNEAS jamais será servir de estandarte para ideologias políticas, religiosas ou sócio-econômicas; também aqui não se cunharão “novas verdades” ou se proporá a quebra de paradigmas. Sacudir o leitor, abrir uma nesga de céu azul anil num firmamento nublado. Convocar à reflexão. Esse será o compromisso.

A primeira edição desse jornal representa um marco. Não pelo fato de ser o primeiro jornal do curso de letras ou por representar o esforço de um grupo de alunos que desviou horas de estudo acadêmico para um projeto cujos frutos são de sabor ignoto. Mas sim por distribuir esses frutos com toda a comunidade, partilhando-os sem o jugo dos que se advogam depositários do saber.

Que este jornal instigue, provoque, seduza e desafie cada leitor a empurrar a fronteira do conhecimento cada vez mais adiante. Que este neonato vingue luminoso e a sua luz rechace as trevas da ignorância que turvam as nossas mentes.

AUTOR: Wellington Rex.

16 de fevereiro de 2006.