LAMENTO DO PAI AUSENTE – O HOMEM AUSENTE
 
Eu tenho dois filhos. Meus anjos meninos, que já postei um poema aqui. Hoje, é aniversário de um deles. Hoje é o segundo ano que não consigo abraçá-lo... E parece que vai demorar muito tempo até que um dia possamos dar um abraço de aniversário um no outro. Circunstâncias da vida me esmagam como uma roda de moinho.
 
Hoje, sinto que todo meu trabalho e o que seu resultado me oferece em termos materiais são inutilidades da pós-modernidade. Sou um melancólico selvagem que abdicou do prazer para ter apenas uns raros momentos de lazer.
 
Nem sei se o filho presente me sente presente. Mas o ausente com certeza não o sente. Sou o espectro de um pai que quis ser. Queria ser um exemplo de homem. Tenho fracassado. Queria ser o ombro, o travesseiro, dar o abraço, trocar o calor. Não consigo.
 
Sou um trabalhador "full time", "just do it", "automatic worker". Sou um pássaro engaiolado pelas escolhas.
 
Se sou feliz? A resposta não viria como uma antítese ou uma concordância. Sou ausente. Às vezes me ausento até de mim mesmo. Por tantas vezes as lágrimas da solidão da madrugada me afogam e me fazem perder-me de mim mesmo. A cama, objeto de descanso, torna-se um universo de desconforto. Há espinhos nela. O quarto, vazio e lúgubre, está contínuo à sala deserta. O espaço amplo ri de mim e se torna fantasmagórico.   Mundo ruído e assustador.
 
Onde estão meus filhos? Onde estão meus dias?
 
Talvez quem leia ache muitas outras virtudes em mim... Mas não é esse o tema. Eu quero meu tempo. Meu talento para fazer os outros rirem está por se esgotar. E depois disso, nada mais serei que um registro obituário comum.