O FESTEJO

   Jesus acabara de nascer, e eu acabara de morrer.
   Passara a meia noite... Uma noite de Natal. A euforia de todos não conseguia amenizar minha angústia, meu sofrer.
   Na mesa, restavam copos sujos, garrafas vazias,
alguns pedaços de peru.
   Nunca deveria ter ido àquela festa. Elas sempre me fazem mal.Uma angústia, um sofrimento,toma conta de mim.
  Naquela noite, o mundo parecia um profundo abismo.Meus amigos eram carrascos próximos à execução.De quem?Não sei!...Talvez, minha!
  As pessoas divertiam-se. No final, iam para seus lares felizes.Essa felicidade me irritava. Nunca soube o porquê.
  Eram quase duas horas da madrugada,andava pela rua sem rumo.
  O efeito da bebida,esvaía-se da mente.Os pensamentos eram turbilhões
de palavras sem nexo.
  Parei... Lembrei-me da festa.
  A festa acabara, ou tudo fora um sonho?Aquela era realmente a Noite de Natal?Sim... Sim, era a Noite de Natal.
  As pessoas divertiam-se, cantavam.
  Nas igrejas, os sinos repicavam. Em Belém, Jesus nascera novamente.
  Eu estivera impassível a tudo isso. Jamais poderia eu ser feliz se outros eram infelizes.
  A festa acabara.
  Jesus nascera novamente.
  Eu morrera, para ressuscitar no amanhã de outro dia e fazer algo pelo mundo... Por aqueles que eram infelizes e, talvez, por mim mesma.


  Denise Severgnini


   Como classificar este texto?
   É uma prosa poética?Uma narração com fundo psicológico?