FOTOGRAFIA
Fotografia, me pediram para descrever o que é a fotografia para mim, se era uma foto ou vários álbuns, se cor ou preto e branco, se estático ou vida pura, se alma que prende em um papelzinho ou liberdade que rasga a prisão da mente e liberta qualquer coração sedento de perceber o quanto ainda temos a observar e aprender. Pensei então, no quanto não paramos para nada mais observar, o mundo em sua velocidade nos impediu de focar qualquer coisa que não se misturasse no degrade de suas querências e valores, nos distanciando do foco, seja qual fosse, nos deixando longe da escolha da percepção, dos valores da imagem raciocinada e milimetricamente transportada aos olhos de forma infinitamente mais bela, torneada com sonhos e desejos, amores e dores, colorida ou em preto e branco conforme o coração pedisse naquele segundo, em um olhar, que dizia muito mais que um só piscar de olhos, ou apertar de botão. O poder deste botão, pensei, um homem acaba com o mundo apertando um botão, dizendo, nada mais quero e colocarei um fim em tudo isso, e faço a guerra, pois bem, o fotografo, e sua maquina, antes de apertar seu botão, pensa, tudo quero do mundo, quero esta imagem, quero a vida, quero as cores, quero decidir o que vou ver, o que vou focar, onde e quando, no meu tempo, na minha poesia, no meu encanto, e fazer deste clique, meu nobre e aconchegante canto, seja com encanto, ou pranto, seja o que for, mas sou eu, acredito no que vejo, e busco mais, quero ver mais, quero registrar o mundo, minha historia, meu diário, compartilhar o que se pode saber em tão simples pensar, basta parar, observar, e sentir a liberdade de não estar preso e direcionado ao que o mundo em suas pistas sem finais ou ganhadores nos conduzem a correr até a fadiga final, física e mental. Para mim, a fotografia é a arte que liberta a alma, que registra o ínfimo segundo que não, não se repete, nada é igual ao momento em que paro e congelo um mosaico de sentimentos e intenções dentro de um objeto formado e construído para atender o que a natureza já pedia, observar com amor e tato o resto das coisas, parar, focar, sentir, e sim, poder lembrar, nitidamente dos sentimentos, da poesia, da vida que seguiu e ser poderoso a ponto de parar o mundo, ali, na concentração de seu desejo, na pausar da respiração, nas sensíveis mãos que então, param o universo, para contar uma só historia, um só ponto de vista, que foi visto por mim em meu clique, e ainda sim, pude compartilhar de forma concreta e sem longas explicações a quem quer que se interessasse. Para, mim, neste breve relato, isso é a fotografia.