CENTO E QUARENTA

 

Luzes brilhantes, vozes aceleradas, sondas, gases, agulhadas doloridas onde cada uma, até o peito arrepiava. As horas passam, passam e um ar azul avermelhado, surge sobre um dos olhos abertos. 

 

Nada se move, a visão é unilateral, meio embaçada ainda, mas, permite observar uma paisagem, onde azuladamente parece uma estrada de paz e, do outro lado, a vermelhidão está lotada de pessoas trajando todo o tipo de roupas...algumas até estão nuas, com sorrisos rasgados de fastio sexual. Elas gritam convocando a sua presença. Uma estrada com duas bifurcações. Tento sentar, mas, o corpo não responde, cada um dos cento e quarenta e um pontos, dói desesperadamente, parece que tudo vai explodir, basta tirar o olho da vermelhidão, que a paz toma cada parte do corpo, imediatamente. 

 

Levanto arrastando acessórios, toda entubada, arrastando tudo que envolve o meu corpo e flutuo até o caminho azulado, ouço vozes suaves, humanas, delicadas, rostos de pessoas que amei demais, animais que amei demais, só que não ultrapasso a entrada. Sinto como desse um passo pra frente e, fosse puxada pra trás por uma voz magnânima, que dizia... Não é sua hora... Não é sua hora...

 

A puxada direta para a maca da cirurgia, foi forte, muito forte, só acordei sentindo dores, muito inchada, mas, cada um dos cento e quarenta pontos que doíam, um olho inchado impedindo a arte da visão, só que uma jovem enfermeira disse ao meu ouvido...agora vamos restaurar tudo de novo, tenha fé. Tudo no seu tempo, no tempo Dele. Radioterapia, daqui há vinte dias, depois de retirar os pontos. Deus é Maior nos seus designios!

 

 

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 02/10/2023
Reeditado em 04/10/2023
Código do texto: T7899559
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