A FUGA DE ROBERTA (dedicado à poetisa Roberta Souza) - miniconto
Roberta era cheia de dúvidas, vários problemas a desconfiguravam, saía do prumo, perdia o foco e a depressão à sua porta batia e era recebida de pijamas.
A forma que o seu restinho de lucidez, encontrou para salvá-la, foi escrever, sobre tudo o que existisse, apenas colocar no papel sem pensar no tema, criar mundos, viajar nos versos, letras livremente expostas, profundas ou sutis, não tinha importância, só uma fuga para a mente. Demorou uns dias, mas, colocou isso em prática, até que ao final de um mês, viu que o dia ficava mais leve. Os problemas eram os mesmos, mas, focava com mais claridade.
Fugiu tanto, que numa morna tarde domingueira, se viu dentro de uma caverna brilhante. As paredes úmidas eram cravejadas de pedras lapidadas, como diamantes surreais, belíssimos, muito diferentes de quando em estado bruto. Percebeu que já havia escrito sobre aquilo e olhou na direção da entrada. Buscava o verde azulado da vegetação que ela imaginara. A paisagem, do mesmo jeitinho que ela tinha escrito, estava diante dos seus olhos. Como seria possível? Não estava dormindo tampouco aquilo poderia ser real.
Apurou o olfato, o cheiro de umidade era como imaginara, a cena inteira estava ali. Seguiu mais para o interior da caverna, procurando por Antonio, seu companheiro de aventuras. Quando os olhos do belo moreno maduro cruzaram com os dela, suas pernas fraquejaram, pois no conto ele era o seu grande amor.
Roberta fechou os olhos por um instante, estapeou com força as próprias pernas, sentiu a dor...Meu Deus! era tudo real, mas, como assim?
Deixou-se seguir sorrindo naquele conto mágico, pois conhecia seu princípio, meio e final feliz.
As buscas pela professora tão querida, se interromperam depois de cinco anos, sem que ela fosse encontrada.