Histórias de um Sensitivo. Parte 3
Você deve se perguntar como batizei Rodolfo de Rodolfo e eu poderia dizer que tive um insight ou que ele se comunicou comigo e me disse seu nome. Mas a verdade é que de tanto sentir uma presença lá em casa, simplesmente decidi nomeá-la porque chamar de "fantasma que mora lá em casa" definitivamente não é muito agradável. O primeiro nome que me veio à mente foi esse.
Eu sabia que era uma presença masculina, ou pelo menos de alguém que já havia sido um homem em vidas passadas, então comecei a chamá-lo de Rodolfo e conversar com ele, embora nem sempre gostasse de tê-lo por perto.
Rodolfo era mal humorado, mas não chegava a ser um espírito ruim. Gostava particularmente de alguns lugares da casa: nosso banheiro social e a edícula, mas também circulava pelo corredor e vez ou outra ficava ao pé da minha cama, velando meu sono. Sempre me assustava quando acordava no meio da noite e lá estava Rodolfo me olhando dormir, como se quisesse me pedir ou dizer algo.
Nesses momentos eu me assustava, embora não sentisse medo especificamente. Nunca tive medo de fantasmas, almas penadas ou assombrações - como queiram chamar. Eles não são como você vê nos filmes de terror. São mais silenciosos e normalmente sua imagem é confusa : em um momento estão ali e no outro já não estão mais lá.
É justamente isso que assusta em suas aparições: sentir uma presença, ver um vulto ou um reflexo ou ouvir sussurros de uma hora para a outra…
Mas com o tempo eu me acostumei. Na maior parte dos dias ele estava lá na minha casa e era como um cão velho que fica acorrentado no fundo do quintal e ninguém se lembra dele. Exceto quando começa a ladrar incessantemente. Era o que acontecia vez ou outra e ele resolvia vagar pelo corredor, abrir as portas, me espiar enquanto eu dormia. Aí sim eu ficava incomodado: o que será que Rodolfo queria me dizer?
Como já expliquei, consigo ouvir mas não consigo distinguir. É como se houvesse muito barulho de fundo. Então certa vez minha esposa resolveu chamar uma amiga que frequenta a umbanda para defumar a casa inteira. Ela veio com o marido e fizeram um ritual muito bonito, com cânticos e ervas e por um tempo não senti mais a presença de Rodolfo. Mas ela não soube me dizer o que ele queria, se era apegado à casa ou se tinha alguma pendência de vidas passadas.
Nessa época também tentei me conectar mais com a espiritualidade e quando orava e meditava, sempre pedia por Rodolfo - para que ele encontrasse paz e achasse seu caminho. Passaram-se meses e eu definitivamente comecei a sentir que ele estava ficando cada vez mais distante. Havia momentos em que eu sequer me lembrava dele.
Certo dia minha mulher perguntou se Rodolfo ainda estava conosco e eu falei satisfeito: Não. Rodolfo foi embora!
Mal sabia eu que ele ainda iria voltar.