A TENDA INVISÍVEL

Leandro caminhava tenso, desesperançado, já nem se lembrava quantos currículos já tinha entregue por toda Avenida Paulista, mas, não tivera retorno até agora. Tinha bagagem, experiência, trabalhava muito bem em equipe e de nada adiantava, não suportava mais ouvir ' Em breve entrarmos em contato' que nada mais era do que uma forma de descartá-lo, não tinha mais dinheiro nem para copiar mais currículos, pagar a internet tampouco o aluguel do quarto há dois meses atrasado, a esperança dentro dele perdera o verde vivo, estava opaca e somente a fé no Jesus Vivo o mantinha de pé.

Entrou por uma rua estreita, nem percebeu que entrara nela, nunca tinha feito aquele caminho, poucos prédios e de no máximo cinco andares, dois casarões de aparência antiga geminados e ao lado deles uma tenda branca com duas cadeiras e uma mesa. Instalada numa delas uma senhora de sorriso amável. Quando ele se aproximou, ela o chamou dizendo
- Venha, tenho todo o tempo do Universo e vocé parece estar precisando desabafar, sou boa ouvinte...

Leandro se abriu com aquela mulher, como se a conhecesse há muitos anos, saiu de lá agradecendo tanta atenção e sentiu o coração mais leve. Chegando ao prédio onde morava o senhorio o esperava com um sorriso no rosto, coisa difícil de acontecer, Leandro logo descobriu o motivo, ele contou cheio de felicidade que ganhara um prêmio muito grande e como tinha bom coração, resolveu não cobrar o aluguel por quatro meses e esquecer os dois meses que ele devia, via o esforço que ele estava fazendo para conseguir trabalho. Os próximos contatos com ele seriam através de um contador, pois com prêmio iria fazer uma viagem com a família e só depois, iria ver como aplicar o que ganhara, desejou sorte e pediu que ele se cuidasse, Leandro sentiu um alívio porque aquele tempo seria essencial, as coisas estavam clareando. Comeu um pão  com café e deitou no sofá cama, então, o celular tocou e uma das empresas gostara do seu currículo e  a entrevista tinha sido boa e, se ele pudesse começar na segundas-feira seguinte seria perfeito, ele agradeceu a oportunidade, desligou e dançou sem música pela casa.

Alguma coisa cresceu na mente de Leandro, a conversa com aquela bondosa senhora na tenda, abrira seus caminhos, uma força imensa o levou até ela de novo, queria agradecer a atenção que colocara sua vida no prumo, indiretamente. Colocou uma camisa e foi até ela.

Chegando lá o sorriso afável dela aqueceu o seu peito, ela fazia muito bem a ele, incrível como que aquele tempo dedicado à ele fez diferença em sua vida. Ela recebeu as notícias dele com muita alegria, lhe desejou muita sorte, conversaram um pouquinho mais e se despediram. Já tinha andado uns cem passos e lembrou que não sabia o nome dela, nem mesmo para que servia aquela tenda. Cruzou com um menino indo naquela direção e perguntou se ele sabia o nome da senhora da tenda branca. Com um olhar espantado o menino disse que não existia nenhuma tenda naquela rua, Leandro insistiu, descreveu onde ficava, mas, o garoto confirmou que não havia nenhuma tenda ali.

Leandro sabia que não estava doido, voltou sobre os seus passos e para sua total incredulidade, no local onde deveria estar a tenda e a senhora bondosa, havia um jardim lindo coberto de lavandas e margaridas e um perfume suave no ar. Leandro não conseguia compreender, mas, viu aquela situação como uma bênção, saiu dali com o coração em festa, seguiu para um templo, orando fervorosamente agradecido.
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 15/02/2021
Reeditado em 17/02/2021
Código do texto: T7185280
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