NO RASTRO DO VAGA-LUME

Vaga-lume entra para a lista de insetos em extinção; diz estudo ...


Iolanda e Luna eram muito ligadas, amigas desde a infância adoravam cores, luzes e animais. Ficavam encantadas com o brilho dos vaga-lumes mesmo agora na pré-adolescência.  O início da noite para elas que moravam no campo era sempre especial, pois aguardavam os brilhos intermitentes para começar a compor suas poesias, de alguma forma eles sempre as inspiravam a escrever coisas mágicas. Só que numa noite quente de Março, eles não apareceram.

Com a curiosidade da idade e o inusitado acontecimento, resolveram sair à cata deles enveredando pela mata próxima às suas casas. Foram procurando, procurando, mas, sem perceber já haviam se afastado muito, sentiram que estavam perdidas e nada de avistar um vaga-lume sequer. Nada haviam levado além de uma pequena lanterna, tampouco avisaram aos seus pais. A noite foi ficando alta e por um acaso sem Lua clara, então, estavam sozinhas, com fome e sede, mas, isso era suportável, achar o caminho de volta é que estava difícil. As árvores e a vegetação mais baixa eram muito parecidas. Era como se andassem em círculos e não avistavam as luzes de casa. O medo começou a fazer seus olhinhos se arregalarem, andavam de mãos dadas, uma dando força para a outra.

Num das voltas que deram viram as luzinhas tão queridas a uma distância de poucos metros delas, naquela idade a sensatez alça voo e foram ao encontro dos seus inspiradores vaga-lumes, mas, o que descobriram foi uma fogueira soltando centelhas, que de longe elas confundiram com o brilho que procuravam há tantas horas. Não havia ninguém por perto, mas, era nitidamente uma fogueira tipo de acampamentos, estranharam e resolveram voltar pelo mesmo caminho que acharam que tinham feito. No meio do caminho ou descaminho elas deram de cara um homem de semblante sisudo, de cabelos desgrenhados, alto e de mãos enormes, uma figura assustadora, que falou.

- O que estão fazendo aqui, por acaso estão perdidas?

Elas responderam meio aos atropelos o que acontecera e perguntaram se ele podia ajudá-las a retornar para as suas casas. Ele disse que sim e estranhamente sua voz era suave, contrastando muito com a sua aparência, resolveram segui-lo, mas, com certo receio. Não viam a hora de abraçar os seus pais, que por certo estariam preocupadíssimos com o sumiço delas. O trio foi enveredando pela mata e flores que elas ainda não haviam visto em toda a caminhada até aquele momento, fizeram com que elas sentissem um frio na espinha. Será que ele as estava levando mesmo para casa? Sentiram um frio na espinha, mas, se entreolhando continuaram seguindo o tal homem. Um tempo pequeno depois, chegaram a um casebre colorido, brancas paredes e janela bem florida, com desenhos de crianças nas paredes brancas e para surpresa delas, os arbustos em volta do casebre tinham muitos vaga-lumes, ficaram encantadas, perdendo a noção total de perigo, foi o terceiro erro naquela noite.

O homem lhes ofereceu água e biscoitos, disse que assim que acabassem iria levá-las para casa, se quisessem poderiam entrar para descansar as pernas. Elas estavam realmente cansadas, então, entraram na casa e o interior transformou o medo em pavor, nada havia lá dentro exceto escuridão e ecos de gemidos, tentaram sair de novo pela porta, mas, a cada passo mais distante a porta ficava. Corriam e não alcançavam a porta, em pouco tempo, já nem se recordavam mais o quanto gritaram e correram, até que caíram extenuadas e aos prantos, praticamente sussurravam chamando pelo homem, mas, não tinham mais forças. Ouviram uma voz gutural que imaginavam vir de fora que dizia

- Você me trouxe mais presentes meu irmão?

- Sim estão fresquinhas e alimentadas

A resposta deixou-as estáticas e logo as fez desmaiar. Elas voltaram a si algum tempo depois num jardim de rosas negras, grama marrom e cercada de vaga-lumes. Abraçando-se as meninas só tremiam, mas, ouvindo as vozes de suas mães se acalmaram instantaneamente, será que fora um pesadelo?

Suas mães estavam ali vestidas de negro com os rostos envelhecidos, cabelos grisalhos longos soltos, mais pareciam bruxas das muitas histórias que já haviam lido. Iolanda e Luna estavam muito assustadas de novo, nada daquilo parecia real. A mãe de Iolanda então, fala com uma voz rouca e baixa, que havia esperando tanto tempo para a chegada daquele momento, mas, agora a profecia se cumpriria, enfim, elas seriam sacrificadas ao Deus das Luzes, pois só assim o encantamento delas se quebraria, elas deixariam de ser bruxas voltando à forma de vaga-lumes livres nas matas.

Luna e Iolanda, sequer respiravam já imaginando o que aconteceria com elas. Num clarão inesperado, as meninas se vêm na porta da casa de Luna, com suas mães lhes passando aquele sermão, por terem se afastando tanto e por muito tempo, sem avisar a ninguém aonde iriam. Elas não conseguiam esboçar nem uma pequena defesa, pois não entendiam o que estava acontecendo. Suas mães falavam quase que ao mesmo tempo, mas, na confusão perceberam que haviam dormido na mata e ao que lhes pareceu, sonharam tudo o que lhes acontecera, o que já era estranho, terem sonhado exatamente igual.

Naquela idade, tantas fantasias se passavam por suas cabecinhas, que depois de um belo copo de leite morno, pão com queijo e bolo, logo já haviam se esquecido de tudo. Ao acordarem de manhã estavam de castigo sem poder se afastar de suas casas, mas, Iolanda conversando com Luna, contou que em seus cabelos apareceram três fios grisalhos longos presos à raiz, o que era muito estranho, só que para seu espanto, Iolanda, lhe mostrou que a mesma coisa havia acontecido com ela. Resolveram ficar caladas, pois já haviam tido emoções demais até ali.



* Imagens - Fonte - Google
* socientifica.com.br
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 03/08/2020
Reeditado em 04/08/2020
Código do texto: T7025360
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