A Luz
Desde que se perdera na floresta há dois dias, seguia uma réstia de luz que parecia estar a poucos passos de distância, entretanto, por mais que andasse, não lhe alcançava. Já estava quase sem forças! Da estrada avistou a fonte entalhada em pedra, uma peça formada por uma grande ânfora sustentada por onze meninos e de onde jorrava uma água, que lhe pareceu fresca e cristalina. O aspecto sombrio do castelo o fez arrepiar, mas a sede de mais de dois dias, sobrepujou o medo e, com toda a cautela, entrou no pátio e se pôs a beber. Neste instante, surgiu ao seu lado um senhor de barbas e cabelos longos e brancos, de ares malévolos. Com um gesto de suas mãos todas as portas se fecharam e o menino se viu preso ali. O mágico disse-lhe com um brilho de maldade nos olhos:
--Vais pagar com a vida tua ousadia em invadir os meus domínios e beberes da minha água.
Retirou da bolsa que trazia ao tiracolo, uma pequena balança e duas pedras, uma preta e outra branca, porém de tamanho e formato iguais e sussurrou-lhe ao ouvido, causando ainda mais terror:
-- Escolhas! Se escolheres a mais pesada, matar-te-ei agora mesmo. Se, do contrário, escolheres a mais leve, completarás a coleção de abelhudos da minha fonte.
O menino pode ver que ali, naquela fonte, estavam crianças de diferentes épocas. Tremendo de medo e amaldiçoando aquela luz que o levava ao seu fim. Optou pela pedra negra e se preparou para o pior. Quando o mágico as colocou na balança, teve um súbito estremecimento e olhou, incrédulo, para suas mãos transformadas em pedra, segurando uma balança equilibrada. Aquelas pedras, pela primeira vez em milênios, tinham o mesmo peso. Antes de transformar-se totalmente, ainda balbuciou:
--Impossível! Imposs...
Os onze garotos da fonte deixaram cair a pesada ânfora e saíram correndo, chorando de alegria pelo encanto quebrado após tantos séculos de petrificação. Estavam livres da maldição do feiticeiro. No alto da torre norte um anjo observava, projetando doze luzes na direção da cidade.
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