Saudade?
Se é que eu posso mesmo sentir,
o que sinto é falta de você.
É a falta de tua presença.
Eu sinto mesmo a tua falta.
Mas o que eu não sei se posso
é sentir sem dúvida a saudade,
porque ela é mais próxima;
porque ela é mais íntima.
Ela, a saudade, é relação.
Relação de sentir a perda,
a perda de quando já se teve;
de quando esteve no coração.
Estar em um coração amado
e nas vezes em que não esteve,
estivesse longe dos olhos,
estaria ainda mais guardado.
Saudade é o embalar do querer,
no balanço dos braços amados
do amante que tem sossegado,
o desejo de quem bem sabe ter.
Ela é assim esse engasgo
entre o querer, o ter e perder,
quando o perder deseja querer.
Desengasga a vontade do passo.
E passa a ir em ida castanha,
porque a cor desse querer tão grande
é também tão viva, que faz manha:
Não se deita. Em nada se prende.
E solta na estrada da vida,
a vontade do querer é leal:
Depende da relação vivida.
Aí, minha dúvida inicial!