Obviedades
O mel é doce, porque as abelhas não apreciam a florada de jiló e carqueija, como alimento.
Os pés suportam a massa do corpo, massacrando-o, impiedosamente, porque, embora tenha boca, não foi projetado para pensar e reclamar das agruras, as quais lhes são impostas.
O caipira usa botinas rústicas, porque sapatos de camurça bicos finos, precisam ser encerados constatemente; e por profissão, ele só trabalha com gordura, terra, água e sebo.
Se trabalhar fosse sinal de nobreza, asnos e jegues estariam sentados em tronos, com coroa de ouro na cabeça e um hárem de mulas e éguas, ao invés de estarem debaixo de uma carga de rapadura, engordando o bolso do patrão.
O miserável do cão vira-lata faminto corre desembestado atrás do rabo, porque nenhum cão abastado, neto de madame, oferece-lhe um gomo de linguiça.
Pastagem em campo aberto é coisa interessante, e após certo tempo mascando e ruminando a minha, sempre acho que a do vizinho é melhor, mais viçosa; e ponho-me a cobiça-la, não importa a estação.
Escrever provérbios, como esses, que estão estampados na cara e escritos até nos olhos dos cegos, é coisa de escritor miúdo que não filosofa a grandiosidade e complexa obra de Emmanuel Kant. Motivo de só ser aceito no Recanto.
Aliás, por falar em Kant e a cegueira dos olhos, os meus veem muitas milhas além do horizonte distante, mas não enxergam a ponta do meu nariz bico de tucano, que está 6-8 cm abaixo dele.