Paraíso
Nuvens e o ventos passam;
A lua espia;
Folhas secas caem;
Os cães latem;
Flores desabrocham;
Tiroteios fazem teste de fogo nas ruas,
O sol se levanta;
O navio carregado aderna;
Portas e janelas deixam escapar;
Ladrões fogem;
Carros de luxo nas garagens;
Traficantes acendem os incensos;
Beatas rezam o terço às terças;
Os quadrúpedes ruminam;
As estrelas apagam-se;
Vistosas bundas, óculos escuros e águas de coco desfilam nas orlas das praias;
O pote de água quebra-se;
Labaredas flamejantes iluminam a noite escura;
Moscas lambem feridas;
Os santo Padres antecipam as missas de sétimo dia;
Aves de rapina praguejam;
Maremotos e tsunamis agigantam-se;
Os vermes agitam-se;
Carpinteiros confeccionam caixões;
Funerárias vendem planos de paz;
Todas as dependências de hospitais ocupadas;
Médicos em despautério;
Vidas arrefecem-se;
Está decretado a vida eterna.
Mais vale um maltrapilho banguela/careca gozando de boa saúde no inferno, que uma beldade com dentes alinhados de porcelana, moribunda tomada pelo câncer, desfilando sobre tapete vermelho na passarela do paraíso.