Prosa Poética: O meu poético chão
PROSA POÉTICA: O MEU POÉTICO CHÃO
Autor: Odenir Ferro
Um gosto de sal na boca e o aroma da terra lavada fluindo acima dos meus pés, enquanto piso descalço nas folhas ressequidas pela estação outono.
Um espelho em forma de muitos fiascos dos raios do sol refletindo nos meus olhos mirando tudo a minha volta. E em torno de mim, fica alumiando a minha emoção. Enquanto vou transmutando as minhas esperanças, quase subjetivas dentro das minhas sensações, no objetivo transparente do horizonte logo ali!
Na espreita, me mirando, entreolhando-me entre as plantas umedecidas pelas gotículas de chuva, que agora se ressecam na brisa amena do vento tépido pela tênue e tímida luz dos reflexos vindos dos raios solares; que pouco os deixam, a espessura das folhas plenas de texturas firmes e verdes, os adentrarem floresta dentro. Para virem refletirem-se no chão.
Enlameado chão repleto de folhas outonais caídas amarelecidas.
Onde eu as piso caminhando vagarosamente, pensando no meu chão.
O meu poético chão! O meu Universo construído pela minha imaginativa emoção em ação. E tracejado pelas linhas do meu coração!
Onde sempre vivo a rabiscar os esboços e faço uns planos e tracejo metas cheias de desenhos de letras. Sempre paginando e repaginando os percursos do meu viver. Ao ir desenhando-me em caricaturas coerentes com o meu profundo eu, através das linhas do meu sublime imaginário.
Pleno de força poética regida pela beleza eterna do Universo caminhando o planeta Terra entre as estrelas, rumo ao infinitivo incógnito da desconhecida imensidão.
Imensidão composta pela ígnea chama do Amor Eterno e Divinal da Sagrada Criação, que nós O denominamos reverentes e humildes, de Deus!
Enquanto piso folhas e flores ressequidas pelo tempo, espalhadas pelo chão feitas um gigantesco tapete. Penso e contemplo dentro e fora de mim a beleza do incógnito expansivo da plenitude amorosa que nos presenteia de pura e radiante clareza e carisma. Feito águas puras cristalinas jorrando até a fonte do nosso amor as nuances delineadas pelos contornos das composições que atuam entre o micro e o macro cosmos. Que ladeia-nos fora de nós, onde neles flutuamos, vivemos, vibramos, atuamos, enfim. Com a força da nossa vida motivando-nos a caminhar e criarmos ininterruptamente as texturas alquímicas do nosso próprio universo interior.
Rabisco uns desenhos de letras e deles extraio as palavras para compor as minhas mais complexas emoções. Por sentir a plenitude presente em todas as facetas que compõem o meu eu. Ao levar-me para fora de mim, ao irk projetando-me para fora de mim, com o meu senso criativo segurando a minha alma por um fio imaginário. Idealizado pelos sonhos das minhas memórias. Que fluem intempestivamente como se fossem uma grossa pancada de chuva inesperada, caindo pela floresta, agora!
Chuva que vem molhando meu rosto, misturando-se com as minhas grossas lágrimas e diluindo e misturando-se com o suor do meu rosto.
Fico eu, estagnado por uns momentos. Sempre atento a tudo, enquanto a chuva, do mesmo instante em que veio e caiu por não mais que uns poucos minutos, para de repente, estanca-se enquanto por dentro de mim, deixo fluir o fluxo do meu sangue que o sinto fazendo corar as faces do meu suado rosto.
Enquanto a chuva para de repente, percebo que muitos grilos começam a orquestração sonora em conjunto com as cigarras, formando uma bela, melancólica e singela sinfonia que flui por todos os poros da floresta cheia de mato verde e perfumado.
Num relance de olhos, posso notar que acetinadas brumas de névoa úmida, agora emergem do plácido lago situado à minha esquerda.
Nas suas margens pode-se ver muitas flores d'água e pequenas vitórias-régias. Cujas flores de um tom rosa claro ficam expostas imponentes refletidas, no espelhado do calmo e cristalino lago.
Os pés de coqueiros estão inertes como rochas. Contemplativos mirando o azul celúreo do céu!
E os bambuzais, mais distantes um pouco dali, também refletem suas copas verdes mescladas de tons olivas, verdes musgos, indo até os tons mais amarelados e verdes claros de galhos de bambus envelhecidos ou ainda em broto. Tudo isso é possível ver do outro lado. Na margem oposta onde estou agora. E que fica entre mim e o lago. Mas que também se projeta se alonga e se mostra de forma inversa e espelhada dentro dele. Compondo uma bela imagem numa paisagem perene, flexível e quase inerte dentro dele.
Apenas pequenos movimentos de ondas pouco difusas e minúsculas, fazem movimentos circulares que estão presentes na dinâmica dos acontecimentos, devido aos pequenos pingos e respingos de algumas gotículas de chuva que ainda caem. Fazendo assim, com que estas belas imagens cênicas refletidas dentro do plácido lago, se tremeluzem de quando em quando, embora sem perderem a nitidez do foco.
Tudo em minha volta esta radiante por uma beleza sensivelmente cíclica e magnífica. E os aromas vindos da terra lavada e das plantas e do mato, após a chuva que caiu, fluem até o meu nariz, enquanto meus pés descalços vão tocando com pisadas firmes e seguras, os tapetes formados pelas folhas de outono caídas ressequidas pelo chão.
Vou assim avançando na minha caminhada.
Às vezes, eles, os meus pés, até afundam no lodo da terra ou na composição fofa dos acúmulos de muitas folhas que jazem umas sobre as outras, apodrecendo e virando esterco para fertilizar naturalmente o fértil chão.
As folhas destoam-se em vários tons de cores degradee que se apresentam desde o verde até o amarelado ouro ou ocre. E também em vários tons de pastel e até de tons marrons escuros ou terra de siena queimada ou avermelhado telha ou vinho.
São assim que se apresentam as cores do outono, com estas folhas diversas de tamanhos e formas. E que se faz de tapete natural para que eu possa continuar o meu percurso desta caminhada lenta e suave em que avanço mata adentro, com os meus pés descalços, integrando meu corpo com a força da terra.
Vou assim caminhando vagarosamente, embora sempre. Num ritmo constante, ladeira acima. Exalando o forte perfume vindo das folhas dos pés dos enormes eucaliptos que impregnam o ar com suas fragrâncias refrescantes e energizantes.
Vou assim, avançando, seguindo o meu caminho com o meu íntimo taciturno e pleno de amor.
Tranquilo e em paz e observador de mim mesmo e de tudo a minha volta. Adentrando firme rumo ao encontro do ritmo lento e aconchegante deste compasso sentimental que me acolheu amadurecendo os meus sentimentos exatamente por ter vindo avante, sempre avante, fincando firmes os meus pés neste meu criativo mundo amoroso e sonhador. Que nada mais é do que o meu poético chão!
Um poético chão para pisar, viver e saborear as eternas nuances projetadas do infinito Universo que se expande rumo ao futuro com suas incontáveis plêiades compostas por inumeráveis miríade de estrelas consteladas que o meu eu sublime vive a olhar, amar e reverenciar!